quarta-feira, 2 de março de 2022

Horácio Neiva e a provável retomada do blog

Aproveitando a quarta-feira de cinzas, enquanto arrumava a casa, ouvi o depoimento do ex-aluno do Olavo Horácio Neiva, aqui. De modo geral, não posso deixar de dizer que há algo de verdade em seus comentários, exemplo: a) o estilo do Olavo gerou um modo explosivo de reagir, b) o ensino do Olavo se centra, "de algum modo", menos no conteúdo do que na emulação da sua figura, c) o Curso Online de Filosofia não era para leitura e discussão de um texto, como ocorre na universidade hoje.

Começo dizendo que nada sei do Horácio com exceção desse vídeo (27-02-2022) e seu fio no twitter (31-01-2019). Seu nome não me interessa, e, se muito, minha única reação à sua pessoa foi ficar irritado com seus risinhos de deboche ao longo de toda a entrevista. Do COF, ao que parece, sua única reação foi aprender o famoso risinho de deboche (de puta), o que mostra o que no fim das contas ele não estava buscando lá.

Descobri seu nome anteontem, por ocasião de uma conversa com um amigo que acompanha o Olavo desde aproximadamente 2003, e, pela última vez, espero, entrei em crise com o contraste entre o que um aluno de longa data viu no Olavo e o que eu, que comecei minha investigação em 2015, vi. Digo pela última vez porque desta vez eu decidi ter coragem e formular uma afirmação que já era da minha experiência há muito tempo, mas que eu recusava aceitar. Vamos a ela.

Reflitão

Este blog foi construído a partir da elaboração de um esquema de como Olavo é compreendido no nosso entorno. Isso eu já aceitava. Existe uma distância brutal entre "O Imbecil Coletivo do PT", na compreensão da Janaína Paschoal, e o "Imbecil Coletivo" como uma ferramenta na guerra eterna na alma humana e, consequentemente, na História, entre Leviatã e Behemoth. A coisa poderia ser resumida como um problema na chave das camadas da personalidade, mas não me parece uma chave interpretativa justa, sobretudo porque eu me considero camada 4 e, se assim for, não seria possível eu estar aqui diagnosticando o problema.

Existe, porém, um texto do Olavo publicado no Imbecil Coletivo II, chamando-se originalmente Mensagem aos sobreviventes, mas que ficou mais conhecido, na era da internet, pelo nome de Apeirokalia. A mensagem central do artigo é que existe uma distinção radical entre as pessoas: assim como no Tao Te Ching, há as que pressentem que o Tao não é o Tao, e as que tomam os ensinamentos do Tao como o Tao mesmo. Em outras palavras, há quem se abra para um objeto como sua realidade, que é a infinitude de conhecimentos que se entrelaçam na sua corporeidade temporal, e quem pressente esse infinito, porque é próprio da percepção humana, mas fecha o objeto o quanto antes em uma imagem verossímil, isto é, que se assemelhe a si próprio, ou, olavetticamente, a seu "horizonte de consciência". Para Olavo, é a experiência na juventude com o Belo, associado ao Bem e ao Verdadeiro, que abre a consciência para isso.

Chrono Cross

Na minha experiência, lembro de ter lido num livro sobre Ariano Suassuna uma citação, salvo engano, de Alberto Camus em que ele fala que todo o seu percurso literário parte de umas poucas experiências tidas na infância que o fascinaram por toda a vida. É disso que Olavo fala. Sei que no meu caso eu tive algo que seria análogo a esse fenômeno. Por um baita acaso caiu em minhas mãos um jogo chamado Chrono Cross, bem conhecido pela sua trilha sonora e sua narrativa próxima do famoso Chrono Trigger. A ambientação, sobretudo somada ao som, me fascinou de tal modo que, mesmo sem saber inglês, eu sempre tentava voltar a ele. Especialmente em Dream of the Shore Near Another World, música que rodava após uma forte cena dramática do jogo, eu parava de jogar para ouvi-la. As imagens, a narrativa central (o começo, claro), que conta sobre um jovem que desmaia numa praia e acorda em um novo mundo, parecido com o seu, mas onde ele teria morrido 7 anos antes, povoaram minha imaginação a ponto de eu tentar montar histórias inspiradas nessa, que ainda hoje me trazem frutos, inclusive na minha compreensão de espiritualidade. É uma experiência, seguida de outras, que se tornam pontos onde a memória se volta pelo prazer vivido, e são como uma "cola" que junta essas experiências. Para terem ideia, esse jogo mexeu tanto comigo que, mais tarde, com acesso a internet e um detonado em mãos para algumas dicas (só algumas, descobrir era maravilhoso), eu consegui avançar até um ponto onde ocorre uma narrativa de uma ilha que precisa ser salva a partir de um ritual envolvendo uma canção. A canção, modernizada em rock, feita a partir desta música, somada à cena do ritual em si, foram tão lindos, e ter chegado nesse ponto me empolgou tanto que eu literalmente chorei de tão feliz que estava por estar vivo (única vez, e curiosamente eu sou meio depressivo, mas jamais Pondémente blasé, espero). Essa influência musical também reverberou em mim, apesar de eu ser um fracassado.

Se o depoimento do Olavo é verdadeiro, e se se trata dessa experiência, então ela, nesse nível, é incomum, e se é assim quem a tem está numa categoria e quem não a tem está na outra. Não me parece o caso. Já li relatos pela internet de pessoas que relatam experiências desse tipo, como esta no Papo de Homem, e inclusive fui influenciado por tais narrativas, antes de conhecer Olavo, e, nem por isso, nem eles se tornaram filósofos nem eu poderia dizer que seja essa experiência o - e pior, o único - fator distintivo. Por outro lado, vendo agora, é evidente que o trabalho que o Olavo fez - e não só ele - parece ser uma tentativa de despertar um "algo" em quem tiver a tal tendência - se é que ela existe - e ao mesmo tempo fornecer as ferramentas desse "algo" a quem não a tiver. Esse "algo" é uma coisa monstruosamente importante, mas antes de falar dele, eu preciso deixar claro algumas implicações, que são a causa mesma de eu nunca ter evoluído essa ideia, por vergonha.

Apeirokalia


Sabem as castas, tomadas não como funções sociais, mas como uma tipologia espiritual? Pois bem, é aqui que paira o problema. É um problema religioso, e seríssimo. Se existe uma distinção entre as pessoas desse modo, ele:

a) Ou é algo desde o nascimento;

b) Ou é algo desenvolvido na juventude;

c) Ou é algo desenvolvido aleatoriamente, sem causa específica;

d) Ou é algo que pode ser desenvolvido a qualquer momento, com certas causas específicas.


Percebam que na hipótese "a" podemos falar em predestinação, ou em castas como necessárias para a estruturação de uma sociedade de forma a refletir o Bem. Se é "b", significa que há castas, mas por acidente: deve-se ao máximo descobrir a fórmula e espalhar para o máximo de pessoas. Se é "c", não há o que fazer, exceto pedir a Deus para receber esse "algo". Se é "d", não existem castas, e que ao contrário deve-se espalhar a educação o máximo possível. Até onde entendo, acho essa pergunta a mais cabeluda de todos os tempos, nela está toda uma decisão sobre a ordenação social e a descoberta ou encobrimento do Bem.



Lembra do Horácio? Não, não o poeta das famosas odes gregas que são estudadas até hoje. O outro, o que só ficou conhecido minimamente por ter sido aluno de Olavo. Vamos voltar a ele.

Mininu mimozu de mamãi

Antes de explicar esse "algo", deixe-me decompor sua situação.  Estas são as 3 afirmações que eu tomei da sua exposição para exemplo, colocadas no começo do post: 

a) o estilo do Olavo gerou um modo explosivo de reagir;

b) o ensino do Olavo se centra, "de algum modo", menos no conteúdo do que na emulação da sua figura;

c) o Curso Online de Filosofia não era para leitura e discussão de um texto, como ocorre na universidade hoje.


São verdadeiras? São, mas não são. Existem duas formas de enxergar um autor: de fora ou de dentro. Eu poderia dizer com muita ou com pouca informação, mas, vocês verão, é inexato, e é justamente por isso que decidi fazer este post. Ao contrário da expectativa universitária, quando não explícita, no mínimo colocada na própria estrutura, a acumulação de conhecimentos desordenada não gera ordem. Vi de um professor a frase "a acumulação de poesias gerará um salto qualitativo", isto é, quanto mais o acúmulo de dados, mais magicamente virão dados cada vez melhores (porque afinal todo mundo automaticamente lê absolutamente tudo o que foi feito e pode produzir uma continuação adequada, óbvio). Até agora, porém, não vi nenhum Manuel Bandeira, nem nenhum Machado de Assis, e nosso Horácio não é aquele Horácio, de uma época que não tinha nem internet nem riquezas minimamente comparáveis às de hoje. Como Horácio teria passado anos acompanhando Olavo, afirma ter lido 10 livros, e, não obstante, eu afirmo e provarei que é um ignorante no assunto?

Eis o ponto: mais ou menos importa apenas secundariamente; o que realmente distingue é dentro ou fora. Nos exemplos: 

a) Olavo gerou um estilo explosivo? Gerou. Qual era a intenção? Permitir que as pessoas perdessem o medo de dizer que as coisas talvez não fossem como estão dizendo que é, porque eles próprios estão vendo de modo diferente. A gente está numa época, formados sob a influência mais ou menos sutil dos ideais de Paulo Freire de uma educação crítica, que ensine a criticidade, e, não obstante, há uma cartilha caminho suave do que se pode questionar, fora do qual se torna algo ruim. Isso inclui, claro, o próprio professor que ensina a criticidade. É patético. E quando se diz que Olavo não permite que o critiquem, o próprio Horácio desconsidera sua posição existencial, sua influência anti-olavette, como também de inumeráveis outros que ele mesmo cita: Joel Pinheiro, Gustavo Nogy, Martin Vasques, e sabemos também de Rodrigo Constantino, Francisco Razzo, o próprio Felipe Moura Brasil, além das figuras menos enfocadas no estudo olavette, como Lobão, Nando Moura, Joice Hasselman, o pessoal do MBL como Kim Kataguiri, que procuraram o Olavo lá pelos idos de 2014 para aproveitar a propulsão do seu nome pelo mínimo (atualmente as lives estão apagadas, mas existiram). Não são apenas pessoas que questionaram, mas figuras públicas que não apenas questionaram, como tentaram destruir a posição da obra do Olavo, como o próprio vídeo do Horácio ilustra. Se Olavo fosse um guru ou alguém que impedisse questionamento, é evidente que isso seria impossível de sequer ocorrer.

b) O ensino do Olavo se centra, "de algum modo", menos no conteúdo do que na emulação da sua figura? Por que será? O Horácio pressentiu a coisa, mas passou longe. Olavo comenta sobre a emulação que fazem a sua pessoa, sobretudo no caso do Spider, que imita os trejeitos do Olavo e a linguagem do True Outspeak. Olavo diz, no curso de Guerra Cultural, por exemplo, que não são esses aspectos o objetivo, mas que é inevitável que isso ocorra. O centro, sua intenção, é que o modo de aprendizado proposto, como ele descreve na Aula 001 do COF, é o de captar uma personalidade viva e atuante. Comentarei mais sobre isso depois, mas, basicamente, significa aprender a perceber, por trás de todas as referências, aulas, polêmicas do dia, quem é Olavo de Carvalho, qual é a "fórmula real" que sua personalidade obedece e que cola todas essas coisas numa só pessoa. Fora desse estudo de uma unidade (personalidade) todas as partes adquiridas do Olavo se tornam cacoetes encaixados na própria personalidade do leitor, muito provavelmente capenga - o fato dele não ter entendido Olavo é prova disso. Isso o Horácio não percebeu, nem teria como perceber, como eu explicarei após o terceiro tópico.

c) O Curso Online de Filosofia não era para leitura e discussão de um texto, como ocorre na universidade hoje. Olavo queria ensinar uma postura existencial a partir da qual cada um possa fazer seus estudos. Sobretudo nas aulas iniciais do COF, sua intenção era limpar alguns dos erros principais que a nossa época comete, além de ensinar a pessoa o amor ao conhecimento, sem o qual não é possível manter uma vida de estudos. Isso o Horácio também pressentiu, mas não soube aprofundar.

O que foi que Horácio não percebeu? Que problema houve? Simples: faltou o "algo". O que é esse "algo", afinal? Vamos a ele.


A praia que divide os dois universos.


Eu listei algumas habilidades que me parecem fundamentais e que distinguem um bom entendedor de um mal entendedor.

a) O sentido de uma ordem que incorpora todas as coisas (Deus)

b) A distinção entre especialidade e generalidade (ciência x filosofia)

c) A distinção entre saber e hipótese (hipótese é pergunta, não conclusão; "não julgueis")

d) O sentido de imensidão do saber (mapa da ignorância)

e) A distinção entre conhecimento por experiência e paráfrase

f) A posição sentimental do sujeito sobre o objeto

Não vem ao caso detalhar cada um. O que há no centro, porém, é uma só e mesma habilidade: perceber uma unidade. Perceber "de dentro", não só "de fora", por julgamento externo. Minimamente, exige um ato de confiança de que há ali uma unidade que não é a que o leitor imagina, mas outra coisa, maior, mais profunda. É essa habilidade que permite investigar um sujeito como se ele fosse todo um mapa que merecesse ser destrinchado. Se essa unidade existe ou não é algo que a investigação deve falar, e não o investigador. Em outras palavras, é um ato moral de "não julgar". É permitir ao outro ser, como na contemplação amorosa. É só essa habilidade que permite a paciência de não encaixar as partes descobertas em locais errados: a nossa realidade é compor um quebra-cabeças sem ter a imagem-guia. Se você não confia que existe uma imagem sendo formada naquelas peças, ou você nem sequer tentará montar o quebra-cabeças ou o fará de improviso, "por contexto", isto é, encaixando conforme as vozes da sua cabeça - absorvidas da mídia, dos seus pré-conceitos e sentimentos sobre o sujeito e sobre si mesmo naquele momento - te disserem.



É nesse contexto que os exercícios do Olavo se encaixam. Desde a auto-confissão, para adquirir consciência de sua própria posição perante o objeto e o mundo, até os exercícios de leitura, para saber desautomatizar a linguagem e distinguir as mensagens a partir de mais recursos. 

Me parece que até a camada 8 é impossível chegar a isso. A camada 8 é quando o sujeito tem uma vida bem vivida e está pronto a encarar os fantasmas do seu passado e resolver-se. Esse exercício é o único, me parece, que fornece um senso firme de unidade. Não se trata, é claro, do jovem depressivo que fica revisando suas tristezas, impotente diante delas, mas sim de alguém já resolvido que rememora sua história e tenta aprofundar suas raízes existenciais. É aqui que o sujeito deixa de se portar só um papel social para beber na fonte da sua vida ativamente e redescobrir sua originalidade, dada pela sua história particular e suas reações ao longo dessa história. É essa percepção de uma vida em conjunto que permite ao sujeito compreender um objeto como um conjunto, porque nós mesmos somos o único objeto que nos é totalmente acessível o tempo todo. Todos os outros, como um especialista muito bom em sua especialidade, são no máximo aspectos de um objeto.

Existem, porém, 3 condições. Algumas pessoas se apaixonam por um tema de tal modo que o comem a ponto de captá-lo em profundidade. É um cordelista quando houve repentistas e sente ali a sua alma, é o físico que nasce ao assistir o Cosmos e admirar Carl Sagan, é o usuário de computador que desperta o gosto em algum jogo para decifrar os mistérios da programação etc.. Abre-se em maior ou menor grau uma porta de genialidade que, se compensadas com um senso biográfico, saltam o indivíduo para camadas ainda mais altas onde ele encaixa seu amor em um Amor mais profundo. Essa compensação não existe fora do olavismo, porque, conforme entendo o conceito, é raríssimo conhecer alguém camada 8 (e acima disso é impossível). Eu conheci uma, e só uma pessoa. Minha descrição do fenômeno vem da observação dela.

A segunda condição extraordinária é a "peirokalia". Não sei se o fenômeno que vivi é o que resolve a apeirokalia, como disse antes, mas é inegável meu apego ao meu passado, e o quanto as suas sementes influenciaram conscientemente o desenrolar dos fenômenos.  Mas foram coisas ao acaso. Quando criança eu mudei várias vezes de escola, por motivos diferentes, e eventualmente quando percebi que seria um padrão eu disse pra mim mesmo que queria me lembrar de cada pessoa, de cada coisa, porque  perder os amigos e ter que recomeçar era algo doloroso, então ao menos eu queria poder guardá-los no coração. Acredito que foi mais essa decisão do que o fenômeno com o Belo que me abriu pra experiências de ser fortemente influenciado por amigos - uma grande amiga fez um desenho de olho em mangá, o que, sua presença, me fascinou a ponto de abrir todo um universo de gosto por aprender a desenhar; também me deu mangás, que me abriram pro universo otaku; outra me abriu pra músicas e assim sucessivamente. Também meus estudos sérios começaram no dia em que percebi, há uns 6 anos, que minha vida tinha sido um total "desperdício" de tempo, e eu decidi não por jogar tudo fora e recomeçar (até porque amava as pessoas e coisas que estavam nesse passado), mas, ao contrário, fazer esse passado não ser em vão. Então minha experiência me mostra que é possível que a "peirokalia" abra o sujeito pra certas experiências na infância que sejam como âncoras do seu passado a partir das quais construir uma obra no futuro. Mas me parece haver uma terceira condição ainda mais fundamental e que está em posse de qualquer um.

A terceira condição, portanto, é a . Ou ainda, o amor. Para os religiosos, como falar em amor a Deus sem falar de um esforço constante por amar algo que está infinitamente além de todo e qualquer conhecimento e julgamento seu? É preciso exercitar essa habilidade com quem lhe for superior: perceber, na pele, o quão além eles estão do nosso julgamento, porque a imagem que resulta daí é uma imagem do próprio Deus. Fora disso, caímos na banalidade do julgamento constante e preconceituoso ao próximo. Chamo de amor porque é preciso um esforço ativo da vontade para dar ao outro a chance de estar acima dos nossos julgamentos, e, mais ainda, o esforço por tentar investigar o conjunto de realizações do sujeito. É permitir-se passar pela floresta de confusões e desentendimentos, por confiança de que, se ele te chamou tanta atenção no começo, deve ser porque ali há algo de maravilhoso que você pressentiu, ainda que não esteja mais vendo. Ainda em outras palavras, é ir além do olhar imediato para permitir a comunicação do "olhar interno" purificado a cada recusa de julgamento antes de conseguir ver o que há de Bom ali. É só no esforço constante de enxergar o Bem que o mal revela ou sua centralidade no objeto ou sua insignificância. Quem está focado só em ver o mal só encontrará bobagens, e a capacidade de enxergar unidades está perdida, talvez para sempre. Toda a problemática das religiões passa necessariamente aqui, e é aqui que Gugu afirma, nas 2 aulas do pão, que a prática correta da religião abre a alma para uma "pérola". Eu não sei o suficiente, mas analisando as práticas do ponto de vista "humano", me parece sim serem exercícios para abertura para essa Unidade, que não é outra coisa que não perceber o ilimitado no limitado, e, em outras palavras, abrir-se a Deus.



É por essa razão que eu fico tão desesperado com a problemática de estarem ou não entendendo Olavo, e que eu pressentia quando criei este blog. O problema não é Olavo. O problema é: estar fechado e não perceber Olavo é estar fechado para a espiritualidade mais profunda. São esses que não percebem, ainda que pratiquem a religião direitinho. A coisa é seríssima, e o que fizeram com Olavo é algo que, colocado em termos religiosos, é como ver no nosso país uma influência profunda e onipresente do diabo. É realmente assustador. Nosso Horácio, coitado, é só mais um. Foi só mais um, continua sendo, e, se nada mudar no seu coração, continuará sendo. Uma história sem o desenvolvimento do espírito é como estar numa correnteza rumo à cachoeira do esquecimento. Ela não perdoa ninguém. O tempo é assim.

Por fim, mas não menos importante, na ausência das 3 condições, e ainda como complemento a elas, eu detalharei as ferramentas que servem para emular esse trabalho, com ou sem a interioridade. E mostrarei como o trabalho do Olavo é, dentre outras coisas, uma tentativa que fornecer tais ferramentas. Isto é, "sanar o problema da apeirokalia". Essa é a discussão mais complexa da humanidade, porque dela depende todo o bem-estar social e a complexa relação do Homem com Deus.

O depoimento do Horácio, e do meu amigo, me abriram para a vontade de querer fazer isso. Espero que possa render para vocês algumas ideias úteis. Esperaria, porém, mais ainda, que se incorporassem como práticas pessoais, e, ainda mais, que vocês optassem por abrir por si mesmos o esforço moral de que falei. É doloroso, é triste: os sofrimentos que vivemos - quer os outros julguem como grandes ou pequenos - pesam no nosso coração e, por causa deles, nós os fechamos. A menina traída continua a ter esperanças no amor; na recorrência da quebra de confiança, ela desiste de ter esperanças. Vivemos como essa menina: no fechamento do coração, esquecemos qualquer valor que possa haver nas coisas, e nos entregamos às paixões imediatas - e julgamentos parciais -, seja de sexo, de tristeza, de maledicência, e esperamos, com isso, sermos felizes. Não seremos, nunca. Ao contrário, a paz temporária que possa haver é apenas a espera no fluxo antes da queda d'água.


Fiquem com uma música de um jogo fofinho sobre perdão.


E aguardem os próximos posts.

2 comentários:

  1. Beleza de textos e de interpretações sobre o trabalho do professor Olavo. Sou ainda iniciante, mas já consigo inferir que não existe nada tão bom fora do "olavismo".

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    Respostas
    1. Obrigado, Ira. Espero que você goste dos demais textos do blog.
      Qualquer coisa, fique à vontade pra comentar, perguntar ou sugerir.

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