segunda-feira, 12 de outubro de 2020

A Razão nos Palavrões

Guardadas as devidas proporções, os palavrões que uso têm a mesmíssima função das gárgulas no exterior das catedrais góticas: assustar os demônios e só deixar entrar quem vem com boa intenção. Os fariseus não passam da porta.

Fonte: internet. Segundo a fonte, trata-se de um dos gárgulas da Catedral de Notre Dame.

Algumas obras, como o animê Higurashi When They Cry, põe uma camada de terror na primeira metade da história para, na segunda, fazer um aprofundamento espiritual no tema. Só um tipo de pessoa sobra no final: o curioso. Mas, claro, alguns continuaram por gosto pela bizarrice, outros, para tentar compreendê-la. Então temos 3 tipos de pessoas, contando com a frágil que desiste antes da metade.

Este post é um rascunho. Nascida a ideia a partir da postagem anterior, "Quem está centrado no cu", a intenção aqui é reunir um pouco o material para aprofundar a intenção presente na linguagem do Olavo - em particular, no aspecto do uso de palavrões. Esse é um verdadeiro divisor de águas tanto nos que o acompanham por cima, quanto nos que o desprezam.

Já mencionei o assunto outras vezes ao falar sobre a língua literária em Olavo e no post anterior com o exemplo de leitor que só foca no cu da obra do Olavo.


Vou dividir as funções dos palavrões em 3 categorias para facilitar: I- a função para o escritor Olavo, II- a função pública e III- a função para o leitor.

I - A função para o escritor Olavo

Passei décadas criando um estilo literário que fosse a síntese do erudito e do brega. Consegui, mas, para compensar, ficou impossível de traduzir. Talvez só em romeno, língua cujos usuários têm uma tradição de humor absurdo parecida com a do Brasil.

Essa área eu não vou me prolongar porque, como disse, já foi tratada aqui. Resumindo: Olavo está tentando expressar a si mesmo, ou não negar-se (sua história de vida, seu gosto por piadas, seu estilo bonachão) em seus escritos. Mas é interessante acrescentar que Olavo mostra a relação entre escritor sério e santo (infelizmente não achei a citação) da seguinte maneira: "o escritor é sincero ao menos quando escreve; o santo, o tempo todo". É nessa chave de interpretação que ele critica Mário de Andrade em oposição, por exemplo, a Manuel Bandeira ou Villa-Lobos: porque estes dois últimos falam daquilo que conheceram e amaram antes do interesse na obra, enquanto que o Mário, paulista, se propõe a conhecer os temas em função da obra. A obra, por mais que possa ser bem feita, ganha uma marca de falsidade, de "trabalho burocrático", menos interessada em compreender e resolver do que em se mostrar. O conteúdo existencial, e, portanto, sincero, muda completamente. Algumas citações a respeito:

Hoje em dia o escritor negro ou gay que escreve sobre qualquer coisa que não sejam os interesses do seu grupo é considerado um traidor, um réprobo. Imaginem se ainda leríamos Puchkin, Machado de Assis, André Gide ou Oscar Wilde se eles só falassem de negritude ou de gayzice.

Tudo na Hilda era verdadeiro, genuíno, sincero. Era um coração que falava.

A busca da sinceridade, como também chamada pelo Olavo, da "própria voz", é reconhecida como o meio fundamental não só para a escrita, mas para se apresentar diante de Deus.

Goethe dizia que a maior força que existe é a personalidade humana. Para você ter força na atuação pública, a primeira coisa é: você tem de ser você mesmo. Você tem de ser mortalmente sincero com você mesmo e com Deus. Ser aquilo que você é, sem se orgulhar de ‘ser você mesmo’. Não, eu não me orgulho de ser eu mesmo, eu simplesmente sou. Eu não consegui ser outra coisa. Na medida que você aparece, não com uma personalidade forjada, não com uma máscara, mas com seu coração na mão — a sinceridade –, as pessoas te ouvem. Isto já era o segredo de Sócrates: Sócrates chamava o testemunho de seus ouvintes (…). Se você soubesse o número de pessoas que me escreve dizendo que eu disse o que elas estavam tentando dizer! Eu não estou aqui para dar minha opinião, estou aqui para dar a sua.

Não suporto gente que fala bonitinho. Só dou ouvidos a quem não tem medo de falar com o coração nas mãos, mesmo ao preço de parecer doido.

A busca da sinceridade implica, resumidamente, em ter o mais claro possível a sua intenção para si mesmo e expressá-la da maneira mais adequada possível conforme as necessidades do momento. Para o primeiro caso é preciso a ampliação do auto-conhecimento; para o segundo, a aquisição de possibilidades expressivas (como, para dar um exemplo mais comum, quando se aprende a paquerar para satisfazer o desejo afetivo e sexual). É que entre a real intenção e a intenção aparente que somos capazes de perceber e expressar no momento costumam haver camadas de confusão que precisam ir gradualmente sendo percebidas para aprofundar-se na própria sinceridade, em "círculos concêntricos". É aprender a captar que na paixão sexual e grosseira está a semente de um amor puríssimo, e aprender a converter uma na outra. É o tal do exame de consciência. 

Gustave Flaubert, que era um ateu, e Henry Miller, que era um pornógrafo, praticavam o exame de consciência tão bem ou melhor do que qualquer católico que eu conheça.

Por sua vez, as camadas da personalidade são consequência desse processo. O escritor comum, mas sério, "trava" na camada 9 ou 10. O santo seria o que atinge o ápice da 12. No ensaio sobre o filme "O Crime de Madre Agnes" Olavo exemplifica o significado de sinceridade com uma situação extrema: "os santos podem pecar, duvidar, negar, blasfemar, até matar - mas não podem ter cisões esquizofrênicas, já que a integridade da consciência pessoal é conditio sine qua non do arrependimento, sem o qual não há santidade nem fé nem conversão." (Aqui vai além do que o que sou capaz de mostrar, exceto por analogia).

II - A função pública

"Um leitor precisa ser muito tapado para não perceber que, nos meus escritos, os palavrões expressam apenas a recusa humilde de toda solenidade fingida."

Ampliando a partir da primeira função, Olavo acaba se apresentando para nós sobretudo como um modelo dessa mesma sinceridade. Ao expressar-se na medida do possível tal como sua consciência, no máximo que ele foi capaz de compreender sobre si, genuinamente exige, ele encarna historicamente uma das possibilidades de sinceridade. A minha não será como a dele, como também não será como a sua, leitor. Eu, a exemplo, tive uma vida completamente diferente da dele, e o que no caso dele são piadas e filmes antigos, no meu caso são memes e cultura pop japonesa. Meus "motivos" também são se manifestaram do mesmo modo, e muitos sequer são os mesmos, mas eu e você somos seres humanos assim como ele então, pela mágica da analogia, a meditação sobre o seu exemplo vai revelando nossas próprias possibilidades de tomar posse dessa sinceridade, nas nossas condições pessoais: o processo é similar, por exemplo, ao macaqueamento que fazemos desde a infância da língua dos nossos pais e conhecidos, para poder falarmos sobre nossas próprias experiências com cada vez mais precisão.

Além disso, existe na sua língua a intenção de "desprezar quem despreza o espírito". Comecei, mas sem detalhar, o exemplo do Porta dos Fundos. Aqui é o lugar para aprofundar no exemplo para fins didáticos.


Desprezar o espírito no sentido que atribuo não significa "desprezar os 10 mandamentos". Significa, antes disso, desprezar, seja o que for. A comédia é sempre a ridicularização; não rimos de algo realmente sério, rimos, por exemplo, quando algo que podia ser sério se revela banal; algo que podia dar certo dá errado. Ionesco dizia que a comédia é uma forma de tragédia quando vista assim.

Desprezar o espírito significa o seguinte: Moisés desce com os 10 mandamentos - existe um texto único. Diante desse texto, de todas as interpretações possíveis, o vídeo, para ser engraçado, opta por puxar as mais baixas, atribuindo os 10 mandamentos como regras feitas por Moisés (não vou nem entrar na questão da autoria) e cuja função é apenas proteger a si mesmo. "Não matarás" - ah, é porque mataram seu primo; - Jura por Deus que é verdade que você fala com Deus? "não posso, é um dos mandamentos" - ah olha aí, então é mentira; (a mulher dele se abraçou com um outro homem por ele estar fora "amando a Deus acima de todas as coisas"), diz um dos presentes: - ah lá, daqui a pouco vai dizer que não pode cobiçar a mulher do próximo, ele responde: "mas está aqui".

Moisés foi transformado em um político brasileiro da pior qualidade. Quando se conhece minimamente o valor espiritual dos mandamentos - para continuar o exemplo -, isso passa do ridículo: se torna ultrajante. Deus manda seguir os mandamentos para "ser bem recebido em toda parte". Ora, dentre todas as interpretações possíveis, é muito fácil perceber por que matar ou trair causa problema. Matar uma pessoa atrai para si a fúria das pessoas envolvidas com ela - quanto mais próxima, maior a fúria. É uma "marca" permanente, principalmente pré-Cristo, onde a ideia de "perdoar", me parece, ainda não fazia sentido para o público mais amplo. Hoje em dia, eu mesmo presenciei uma mãe de condição humilde me falar que queria encontrar o assassino do filho dela para perdoá-lo. Isso era impensável, e mesmo para ela, que alimentou o desejo de vingança por muito tempo, visto que o assassino não fora preso. Quase do mesmo modo, a paixão para uma pessoa comprometida implica no mínimo em dividi-la, e isso terá repercussões na sua vida comum, ainda que ela não preste atenção. É o uso de palavras diferentes, é um desvio de fala, e, se descoberta a traição, os dois sujeitos que traíram atraem para si o ódio dos envolvidos; as paixões humanas, o orgulho de ser o escolhido amado, a luxúria (no caso do homem, ele perde a segurança, por exemplo, sobre o tamanho do seu membro e sua capacidade de satisfazer a parceira), a quebra de expectativas, tudo isso bate no coração do traído, e não sai, salvo o milagre do perdão. Isso eu digo para falar o mínimo, e nos mandamentos mais simples.

Isso é desprezar o espírito. É ver pelo ângulo mais banal ao invés de abrir-se à possibilidade de que aquilo diga algo mais. Pior ainda, essas ideias pegam na boca de quem já desprezava aquilo  - no caso o cristianismo -, e privam o sujeito de contato mais sério com aquele material. Criam uma visão de mundo cada vez mais mesquinha, e são essas pessoas (os 20 milhões de acesso ao vídeo do Porta dos Fundos) que ao lerem Olavo fazem exatamente o mesmo procedimento, porque é o que foram ensinadas a fazer. E isso fecha as portas para o mais elevado; mas se não vemos o mais elevado nos outros, também nos fechamos para abrir em nós mesmos as possibilidades mais elevadas. É uma tragédia espiritual, que, arrebanhando alma a alma, transforma-se numa tragédia social. (Para mais exemplos, ver o artigo "como ler a bíblia"). A questão aqui não é falar contra a comédia - ainda mais porque ela tem seu efeito de alívio do sofrimento -, mas sim colocar a questão: rir, sim, mas do quê? Quando se ri do conteúdo espiritualmente mais elevado de uma população inteira, apresentando a ela como algo cotidiano, é que se está rindo de Deus em parceria com o diabo.

Porque vejam, dois parágrafos acima, o quanto eu precisei falar, o quanto precisei ter de dados só para começar a refutar a bobagem que cola como chiclete. É impossível refutar caso a caso, ainda mais porque a alma que se deixa levar por esse tipo de comédia já nutre dentro de si o desprezo pelo espírito. E é isso nela que a faz aceitar esses vídeos com uma espécie de prazer sádico, principalmente se ela tem conflito pessoal, no caso, com o cristianismo - por exemplo, teve pais desagradáveis que eram cristãos, ou conheceu um cristão arrogante que o desprezou etc..

Diante de uma situação tão absurda e de proporções alarmantes, o que sobra ao tentar argumentar e, diante de quem sequer consegue levar o conteúdo a sério pela sua própria decadência espiritual, não se conseguir nada?

"Ora, vai tomar no seu cu".


Isso bate diretamente nas emoções de amor-próprio do sujeito e de repente ele pode entrar em crise e começar a repensar o que fez de errado. Não tenho o local da citação, mas em 2014 Olavo falou muito disso, principalmente ao tocar no tema da psicopatia, como ocorreu em vários hangouts, ironicamente, convocados pelo Lobão. Quando o sujeito não aceita a argumentação por burrice e/ou arrogância, o psicopata tentaria antes seduzir a vítima e fazer entrar os dados sem que ela sequer percebesse, sem passar pelo nível consciente, sem ser interiorizado pela sinceridade, mas apenas pela memória. E ainda se passando de bonzinho. O "estilo olavette" consiste no xingamento; é uma troca: eu passo por mal perante você e o público, mas você agora vai ter que refletir por que mereceu uma lapada dessas. A invenção dos apelidos também tem o mesmo efeito, além de, pelo riso, fazer o leitor se afastar do sujeito que despreza o espírito. Dizem que há um rol de conversões - eu não acompanhei, exceto pelo "Punheteu" (Poeta Ateu) e, dizem, pelo "Rodrigo Cocô Instantâneo" (Rodrigo Constantino), este último em um "embate" que durou uns 13 anos.

O "estilo olavette" de fala, seja macaqueado ou com mais pleno domínio e adaptação a si, como o Ítalo Marsili, se espalha como essa coragem para enfrentar o público se colocando na posição de ser julgado e criticado pelo mundo, com a coragem de Sônia que Raskolnikov tanto invejou até, afinal, perceber que pode também ser forte como ela. Essa coragem, presente em sua forma mais perfeita no Imbecil Coletivo, que bagunçou a intelectualidade pó de arroz, como também as ideias pó de arroz, e que é fundamental para se chegar à sinceridade mais plena, tem, também, uma segunda intenção. Mas essa já não é mais só na questão de atuação pública, e sim na do indivíduo consigo mesmo. Aí, sim, entramos no núcleo da sinceridade.

III - A função para o leitor

É incrível como um homem como Gianotti, tão valente ao expor ideias políticas mesmo quando lhe atraíam a ira dos sumos-sacerdotes da esquerda nacional, se cubra de cautelas ao criticar um pensamento tão vulnerável como o de Richard Rorty. Explica-se, talvez, pela crônica timidez uspiana, inibição intelectual que se tornou, em versão fetichizada, a caricatura tupiniquim do "rigor" ensinado pelos primeiros mestres - franceses - fundadores da USP. [...] (É uma) compensação jungiana pela petulância ante o legado espiritual do passado. [...] torna-se muitas vezes o refúgio comunitário onde o intelecto mal dotado vai abrigar-se contra os perigos da investigação solitária - vale dizer, contra o exercício mesmo da filosofia. O verdadeiro rigor filosófico, ao contrário, é pura coragem interior,  não se curva senão ante a evidência e não tem nada de temor reverencial adolescente (ou colonial) ante os prestígios acadêmicos do dia.

(continua poucos períodos depois) Nada aqui contra Gianotti, homem capaz e correto, que só peca por admirar quem não merece - ou por fingir admirar, talvez, já que o floreio bajulatório involuntariamente irônico é outra marca registrada do estilo uspiano, onde faz as vezes de polidez acadêmica.


Este tópico é quase colado com o anterior. As citações acima são notas de rodapé, acho que de 1994, do "A Nova Era e a Revolução Cultural". Elas mostram os 2 aspectos do que tomo como a função para o leitor individual: a coragem de verificar por si mesmo - mesmo contra a crença-padrão do público, até nossa - e o "estilo falso" universitário. Aqui, como também nos casos anteriores, é claro que eu me expando para além do uso de palavrões em si para decompor não só o uso de "cu", mas o contexto no qual Olavo fala. Dito isso vamos adiante, do estilo ao indivíduo.

Karnal, Pondé e Cortella posando para o lançamento do livro em conjunto: Felicidade: Modos de Usar. Todos muito bem fardados, e Pondé aqui está um misto do discípulo de Viena com papai noel. 

Qual é, por dizer público, o autor de literatura mais importante de todos os tempos do Brasil? Machado de Assis. Qual é o seu assunto mais recorrente ao qual ele remete quase arrebatadamente: a maldade banal brasileira, sobretudo nascida da simples hipocrisia que evolui até causar o mal ao próximo (para alguns exemplos úteis, ver a novela O Alienista, ou os contos: O Enfermeiro, Conto Alexandrino, Causa Secreta, Teoria do Medalhão, O Espelho etc. etc.). Onde está esse tema nos nossos conteúdos, seja em escrito ou audiovisual, formal ou informal, para expandir essas revelações e elevar o nível de instrução e virtude da população para uma vida em sociedade mais saudável? Não está.

Somos um país cujo legado cultural mais amplo não durou nem 2 séculos praticamente, de 1850~1950 (grosseiramente de José de Alencar a Alberto da Cunha Melo), a partir de onde, com a ascensão cada vez mais rápida das universidades, e, portanto, do número de graduados, houve também a especialização cada vez maior e, por conseguinte, a "miopia" de que mencionou José Honório Rodrigues em "Vida e História", onde não havia mais pessoas interessadas em estudar uma situação mais ampla, por focar excessivamente - e por necessidade profissional - na sua especialidade. A maior universidade brasileira não tem nem 100 anos, e nossas faculdades não chegam a 200, mas, não obstante, por padronização estética, nos portamos como estrangeiros como se fossemos um país com o mesmo grau de histórico de esforços para absorver ideias e ampliar as possibilidades de ação. Não somos.

Consequentemente, é fácil fazer analogia com aquele velho e batido papo de "complexo de vira-lata". Repetimos ideias e estilos do exterior porque elas têm prestígio - como, aliás, foi a Semana de Arte Moderna de 1922. Mas, antes, havia ainda um esforço para adaptá-las às condições locais. Isto é, encaixar essas ideias como prolongamento cultural nosso - é, por exemplo, o Noturno da Rua da Lapa do Bandeira em relação com O Corvo de Edgar Alan Poe, é, aliás, a obra do Bandeira, que adapta as formas poéticas de todos os tipos, como o Gazal em Louvor de Hafiz (forma do Oriente Médio, salvo engano persa), o soneto e o alexandrino (levado à exaustão de possibilidades com o Bruno Tolentino), as misturas com sonoridades de Portugal (como em Baladilha Arcaica, Rimancete etc.), dentre outras, para soar o mais bonito possível na nossa língua. É Dostoiévski transfigurado em Graciliano Ramos, é Gil Vicente em Ariano Suassuna, é o choro e as músicas populares de infantis a adultas sintetizadas com as formas clássicas em Villa-Lobos. Cito aqui o que conheço, mas há muito mais. Esse esforço existiu, e por mais que se possa criticar o valor dessas obras, o fato é que não há mais, até onde vejo, quem sequer pense na possibilidade de fazer uma obra desse tipo.

Dá vontade de rir quando alguém me cita os 4 amores de C.S. Lewis (não li o livro, falo do que ouço popularmente citado o tempo todo) e desconhece a Contemplação Amorosa de Olavo, que está para este como o sofista Mênon está para Sócrates no assunto Virtude (fechado com chave de ouro no Fédon). Literalmente. É um riso amargo.

Jogamos o esforço dos nossos brasileiros fora para estar em dia com a novidade internacional, e ainda nos perguntamos por que ninguém lê nossos livros. É óbvia a resposta, mais ainda quando vemos que, como mostrado na segunda função dos palavrões, o vídeo satirizando Moisés está com 20 milhões de visualizações. Em nome da imitação do estilo de fora, para ficar "de bem" com a exigência dos pares, falsificamos nossas condições reais e fingimos que somos um país que não somos. E em nome de uma gargalhada sádica, cortamos a chance de propor um conteúdo mais elevado e útil.

Os palavrões, como a postura de coragem, entra aqui colocando o tema e o estilo do nosso povo acima do medo que nos faz querer passar uma boa e falsa imagem para o público. É o povo que adora Casos de Família e Programa do Ratinho, mas que também está a cada dia mais evangélico e busca a salvação da própria alma. Safados, mas sinceros; doidos, mas em busca de um Bem que, por falta de alguém melhor para oferecer, vai se perdendo.


Por fim, somos o país do ENEM. Num total de cerca de 8 milhões de alunos no ensino médio, e cerca de 42 milhões em preparação para chegar nesse ponto, 4 milhões fizeram o ENEM em 2012. Esse pessoal todo, na idade juvenil, é ensinado na escola que o principal argumento é o de autoridade, pois dá mais valor ao texto e, portanto, nota na prova e, com ela, "chances de sucesso" na vida. Vi gente de 16 anos citando Max Weber - como se o entendessem como um Câmara Cascudo, ou, como se fossem capazes de entender a sociedade se não sabem sequer entender um único adulto por experiência própria. Além de todos os absurdos "Enenescos" que não merecem ser mencionados.

Diante de todo esse treino, nos acostumamos mais a aceitar "os olhos dos outros" do que os nossos próprios olhos. E esse é o passo principal para cair no engodo do Porta dos Fundos e da decadência do espírito, da inteligência. Falar sem saber, só porque memorizou as frases. Buscar sempre as possibilidades mais risíveis do próximo. Esses dois hábitos se impregnam em nós e vão falseando nosso senso de verdade - que podemos ver presente, por exemplo, sempre que fazemos uma prova e, enquanto respondemos a questão, uma vozinha secundária nos relembra qual trecho fazemos colado do texto de referência, qual trecho estamos inventando, qual trecho é para adular o professor, qual é inventado etc.. O palavrão consiste numa recusa da autoridade para abrir espaço para o indivíduo averiguar os fatos para que chegue ou não à mesma conclusão, mas de uma forma sincera. Esse é um dos pontos mais frisados pelo Olavo ao falar do testemunho individual, e não é em vão.

O caso mais trágico da recusa de xingar em nome da polidez é o próprio Carpeaux. É o verso citado mil vezes por Olavo do Rimbaud, "par delicatesse j'ai perdu ma vie", por delicadeza perdi a vida. No seu ensaio que introduz o livro Ensaios Reunidos do Carpeaux, "Introdução a Um Exame de Consciência", também presente na obra "O Futuro do Pensamento Brasileiro", Olavo faz tanto uma análise estilística (belíssima, por sinal) quanto uma averiguação biográfica para mostrar a decadência de um grande homem, e, por via dele, a decadência do espírito, ao contracenar com a falsidade do meio.

Na ausência de modelos variados que encarnem a sinceridade, ela perde suas vias de expressão na nossa sociedade e se rende à obediência cega ao meio. Não é à toa que, cursando Letras Português, por tantas vezes vi professores falarem que a consciência é só reflexo do meio. É porque não há modelos que mostrem como é é a consciência que decide por si mesma e cujo critério de julgamento é cada vez mais interior e "esquisito" para esse meio por seguir regras próprias. À diferença do adolescente rebelde que busca ser diferente, que é, na verdade, uma breve imagem disso, uma vez que, na verdade, o mesmo adolescente é sujeito ao meio de referência e sua diferenciação não é sincera o bastante para que ele não se envergonhe de si mesmo quando está sozinho. Falta o exame de consciencia, o vertical.

Existe uma citação bem difundida no meio olavette, mas não sei a fonte. É o palhaço que tenta alertar de um incêndio no circo, mas todo mundo pensa que é mais uma piada e morre queimado. Essa imagem é um topus, repetido, por exemplo, em Lima Barreto através de um bêbado em "A Nova Califórnia". É o sujeito "esquisito", "doido", que consegue ver o mundo por olhos além da aparência social. Parodiada grosseiramente por Karnal, Greta Thunberg e cia., pessoas aceitas pela mídia e, portanto, pelo meio social, para não dizer os que associam doenças físicas e loucura patológica a esse estado de recusa consciente a fim de obedecer a uma ordem mais alta, tudo isso se torna apenas mais uma razão, um sintoma da necessidade dos palavrões. O incompreensível continuará incompreensível, como a "enigmática alma do Olavo" para o Mário Magalhães, a quem mantiver a alma pequena, não tendo o mínimo interesse em expandir a própria capacidade de enxergar algo além do banal.

Assim, os palavrões se tornam tanto um meio de filtrar os "intelectuais pó de arroz" que, não conhecendo o que há além do que veem nos textos, se restringem a esse mundo fechado, além de apontar quem são os verdadeiros doidos/burros no cenário público, e incentivar a coragem individual para colocar a busca da sinceridade, a verdade pessoal, acima de todas as coisas.

Portanto, ao vídeo do Porta dos Fundos, e a todos os que não querem compreender de verdade o que está acima da ordem social e que é inclusive necessário para que ela exista, se recusando insistentemente até em aceitar a existência dessa ordem superior, um gentil e sincero:

Vai tomar no cu!!

Porque vai mesmo. Não é uma ordem, é prevenção.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Quem Está Centrado no Cu?

Meus artigos são escritos para dois públicos: os saudáveis e os histéricos. O primeiros aprendem alguma coisa, os segundos ficam mais histéricos ainda. Tudo conforme o planejado

Exemplo de reação [a página é fake, mas a citação realmente ocorreu, conforme registro na página Olavo de Carvalho no Facebook]

Artigo que será usado como exemplo: 

  • A ESTRANHA OBSESSÃO DE OLAVO DE CARVALHO PELO FURICO ALHEIO
    • Subtítulo: Olavo de Carvalho fala, escreve e provoca recorrendo à palavra ‘cu’. O professor que parece só pensar naquilo teria indicado dois ministros de Bolsonaro.
  • Site: The Intercept Brasil
  • Autor: Mário Magalhães
  • Data: 28/11/2018
  • Horizonte da Crítica: A primeira metade do artigo está na IV; a segunda metade, na III

Para ser sincero enquanto lia o artigo do Mário Magalhães eu mesmo comecei a entender melhor o que Olavo quer dizer sobre o papel literário dos palavrões. Não que eu não soubesse, mas as frases escolhidas pelo Mário são maravilhosas para perceber que se percebe - ainda mais em contraste com o que ele próprio entendeu delas - que foi, diga-se de passagem, nada.

É por esse absurdo na reação perante seus próprios escritos que Olavo reafirma com cada vez mais veemência o analfabetismo funcional precisamente daqueles que falam mal contra ele - que constitui a opinião média universitária, seja de alunos ou de professores -, porque: 1- eles não pararam para ver qual o tema principal de sua obra; 2- pressupõe-se que essa ideia sequer lhes passou pela cabeça; 3- passaram por frases com sentido mais amplo e também o sentido a mais passou-lhes despercebido, seja por incapacidade própria, seja por não ser capaz de associar essa possibilidade ao autor (no caso, Olavo).

A primeira parte do texto (está na 4ª categoria) é uma coleção de "cus" que o Mário fez questão de recolher para montar seu artigo jornalístico. Isso, sim, faria-nos questionar: "entre quem fala cu algumas vezes, dentre uma imensidão de outras coisas, e aquele que sai a procura só dessa palavra, qual dos dois se interessa mais pelo cu?" Brincadeiras à parte, a segunda parte do texto é uma exposição de afirmações que o Olavo fez sobre questões políticas e fatos que eu não domino, então não posso comentar (quem souber e tiver alguma fonte, adoraria ouvir para expor exemplos).

É evidente que a primeira parte do texto é uma tentativa de desqualificar o autor para, depois de se posicionar como superior perante o público, formular seu argumento que será, assim, muito mais acreditável. Mas para o leitor mais atento e que não entenda do texto só o que foi mandado entender, basta ver as citações escolhidas. Diz o Mário:

  • Carvalho especulou no passado sobre palavrões: “Segundo entendo, foram inventados precisamente para as situações em que uma resposta delicada seria cumplicidade com o intolerável”. 
    • [Olavo sobre a intenção dos palavrões, mas esta é mais sutil. Eles não entendem por que essa é uma situação intolerável]
  • Não trai cumplicidade, e sim receio, ao se referir a contendores políticos: “Os caras vêm com uma piroca deste tamanho e põem no nosso cu”. Uma variante, físico-erótico-estética: “Toda piroca se torna invisível ao entrar no seu cu”.
    • Imagino ser desnecessário explicar a incomodidade física do ato. Mas em sentido metafórico, refere-se a medidas, ações de grande impacto e que simplesmente deixamos passar. E a variante colocada, em particular, é ainda mais interessante. "Toda piroca se torna invisível ao entrar no seu cu". Essa frase é a versão "huehue" da noção que Olavo expressa sobre consciência enquanto algo que nunca está estável: ou nós a estamos elevando, ou ela está decaindo. E quanto mais decai - no caso, a partir dos problemas que "deixamos passar" -, menos notamos que houve um problema. Essa frase ecoa com bastante intensidade e detalhamento no "Jardim das Aflições", por exemplo. Sobretudo porque parte do interesse do Olavo é sobre os meios que são usados para evitar o desenvolvimento da consciência, seja pela propaganda, seja pelas técnicaspersuasivas em nível mais subliminar (como PNL, tom de voz etc.), seja por recursos grupais usados em seitas ou, segundo Pascal Bernardin (Maquiavel Pedagogo), na própria metodologia de ensino escolar. Se evoluir mais ainda dá para checar na distinção entre retórica (tal como trabalhado em Aristóteles em Nova Perspectiva) e a Erística (na edição olavette do livro do Schopenhauer, "como vencer um debate sem precisar ter razão")
  • Carvalho se embrenhou na dialética do fiofó: “Esquerdistas são pessoas que lutam pelo direito de dar o rabo sem ser discriminadas, ao mesmo tempo em que protestam para reclamar que só tomam no cu”.
    • Não precisa dizer que o Mário usa de sinônimos de "cu", mas que não possuem qualquer sentido a mais, além do literal. Olavo monta frases que são verdadeiros aforismos, apesar do tom jocoso.
    • É sem graça explicar uma piadinha, mas dar o rabo é associado a sofrimento. Então ao mesmo tempo em que lutam por algo de valor individual (sexualidade e exposição da auto-identificação), reclamam por estarem sendo expostos a conflitos que surgem pelos mesmos gostos de valor individual, opostos ao seu.
  • o ex-astrólogo que se apresenta como “escritor de envergadura universal” derrapa na aula de história. “Não se pode vencer uma guerra dando o cu”, pontificou. Do além, guerreiros gregos de outrora gargalham com a ignorância do professor.
    • Não tenho conhecimentos de história suficientes para argumentar a respeito. Mas "dar o cu" aqui se refere à passividade, à rendição. Excetuando o "dar o cu" como estratégia de combate entre líderes, por exemplo, que foi o caso particular imaginado pelo Mário, imagino, a forma como foi exposta é no sentido de, ao invés de se preocupar em vencer o combate, preocupar-se com o prazer pessoal. E é correto. Se um dos lados está "brincando" (ou se apaixonando, amando, enfim, em ócio) e o outro está planejando o combate, fica óbvio qual dos lados vai ganhar. Caso, aliás, associado ao Ocidente em oposição aos grupos que lutam pelo poder mundial. Também nesse assunto não sei o bastante para argumentar. Mas é como a situação que Olavo comenta sobre a China, que rouba segredos industriais (e só foi revelado a dos EUA porque eles tem tecnologia o bastante e deram sorte) em oposição ao Brasil de Fernando Henrique Cardoso, que não liga para as implicações disso porque neste momento específico consegui ganhar algum dinheiro exportando soja para a China. O fato de que roubando tecnologias eles podem produzir mais e melhor e parar a importação de soja nossa nem aparece como questão.
  • É o próprio Olavo de Carvalho, 71, quem associa xingamentos e prazer: “A velhice é uma delícia: você não precisa respeitar mais ninguém, pode mandar todo mundo tomar no cu. É uma libertação”.
    • Minha avó também já me disse isso. Minha mãe já se aproxima da fase. Após uma carreira já consolidada, na "fase de aposentadoria" - mesmo que no caso de Olavo ele permaneça ativo por escolha própria-, as aparências sociais importam menos. Deve ser bom isso, eu, pessoalmente, sei o quanto pesa, quantos sapos se engolem por isso. E, muitas vezes, apoiamos algo que consideramos errado por medo das aparências, de perder emprego ou reputação (que importa para o emprego) etc.. 
    • Com exceção, é claro, dos sujeitos que seguem uma das 3 vias ensinadas pelo Olavo no COF (não lembro em qual aula) por via do escritor romeno Nicolae Steinhardt, no seu livro escrito sobre sua fase como prisioneiro político, "O Diário da Felicidade". São os mais próximos dos místicos, como Francisco de Assis, que se "despem" da sociedade (literal ou figurativamente) e dedicam a vida à sinceridade até suas últimas consequências. Não se trata do sujeito "super sincero" tal como imaginável pela Globo; essa sinceridade externa pode, inclusive, ocultar a verdadeira sinceridade.
  • A obsessão pelo furico alheio não é comportamento merecedor de considerações morais, e sim um mistério da alma de Carvalho. 
    • Para fechar as frases, coloco essa. Aqui o Mário Magalhães tem um lampejo de sinceridade. "é um mistério da alma de Carvalho". De fato, é mesmo. Um mistério inacessível, como ele próprio demonstrou, a quem só estiver interessado em procurar "cu" como o orifício anal, sem se abrir para as possibilidades linguísticas. Em igual proporção, a quem só quiser ver a banalidade de um ser humano, e não suas possibilidades latentes mais altas, acessíveis mesmo nessas partes menores de uma obra bem maior. Tema, aliás, tratado por Olavo no seu ensaio contemplação amorosa, e presente também na noção da círculo de latência.
    • O Mário pressente, mas prefere antes se render a sua própria aparência de bom jornalista do que de se inquirir o que mais pode haver ali. Principalmente se levar em conta que ele cita como referência inúmeras vezes a página com citações recolhidas do Olavo sobre cu, que possui verdadeiras pérolas. A menos que ele tenha fechado os olhos e colhido aleatoriamente, algumas delas ele deve ter visto. Mas e que importa? Basta ver o que se quer ver.

Vou organizar devidamente um artigo "A Razão nos Palavrões" para iniciar melhor o tema sobre palavrões. Este texto aqui serviu para mostrar um exemplo de análise e principalmente de chave de classificação para o horizonte de consciência da crítica.

É de fato uma situação muito triste para o aluno que teve uma mínima ideia sobre o que de fato é o trabalho do Olavo enxergar essas paródias grotescas feitas pelas mesmas pessoas que, ao passar por todo o rumo do estudo formal, se comprometem, seja pela obrigação herdada pelo canudo, seja por um compromisso pessoal, a compreender as coisas a sério em prol dos outros. A maior parte da crítica cai nas categorias IV ou III, no máximo, e isso é sinal de decadência. Seria ainda mais triste, se não fosse esse exatamente o tema que Olavo vem trabalhando há bem mais tempo do que eu próprio nasci - e se não fosse, afinal, uma prova e amostra de estudo para os alunos, além de motivacional para seguir um exemplo contrário. Mas é triste que para todos esses, a alma de Olavo, que representa a alma de um homem de estudo superior, isto é, de alguém que tentou entender um tema acima e além do pequeno círculo de sua especialidade, e ajudar os outros com base nisso, se torne, para tanta gente que parodia esse papel, um "mistério" de tom esotérico. Falta amor no Brasil.



quarta-feira, 7 de outubro de 2020

A Relação de Olavo com a Natureza

 Esta é a primeira tentativa de esboço de um motivo. Trata-se da relação do indivíduo (no caso, Olavo) com a natureza, ou seja, sua relação com o seu corpo e o mundo em geral. Certamente esse tema pode se desenvolver muito além, a intenção aqui é apenas fornecer alguns elementos úteis.

Parto da noção, aprendida com Olavo, de que o desenvolvimento de uma filosofia implica na integração e superação da biografia pessoal, isto é, o processo perfectível (imperfeito, porém sempre em processo de se perfazer mais e mais) de compreender os dados biográficos pessoais e torná-los úteis para um objetivo traçado conscientemente pelo indivíduo. Desse modo, observar os elementos negativos da biografia de um sujeito pode se tornar particularmente importantes, se feito com essa intenção, porque são justamente os mais difíceis de "integrar". Na medida em que não são integrados, esses elementos biográficos se tornam então "fantasmas" ou, mais precisamente, empecilhos da visão de mundo, reduzindo, assim, a capacidade de enxergar e interpretar os fatos; consequentemente, há aí uma perda cada vez maior na capacidade filosófica, na medida mesma em que esses elementos não se integraram.

(Para entender melhor o que são os motivos, ver ou a página "Sobre o blog" ou a Listagem dos Motivos)

Foto retirada da internet. [Provavelmente é ele na Virgínia, em uma cena do filme O Jardim das Aflições]


O que é?

A relação com a natureza é um motivo crucial. Uso natureza em sentido simples - conforme minha capacidade - de relação com o próprio corpo e com o mundo externo. Sendo assim, se as ideias de um sujeito pretendem falar sobre o mundo, sobre a sociedade, sobre leis de classificação da existência, cabe também, antes, saber qual a sua posição perante esse mesmo mundo, e como ele reagiu perante ele. Antes de sermos parte de uma família, de um grupo, de uma sociedade, com todas as suas comodidades e regras, somos, também e ao mesmo tempo, um indivíduo só perante a natureza. 

Quanto mais tecnológico o meio, isto é, preenchido de técnicas humanas, da agricultura à informática, mais ele é distante da rudeza natural. E mesmo assim a "natureza" se faz presente: cada qual um indivíduo que tenta se preservar, se protegendo dos perigos, na tentativa de se manter até quando der.

De onde pode ter vindo?

Olavo tem algumas marcas biográficas que são interessantes de serem anotadas. 
  • I- A doença na infância.
    • Não tenho os detalhes biográficos, mas em diversos momentos Olavo comenta que ficou acamado em casa por uns 7 anos. Não sei qual a doença nem como exatamente se manifestou, mas essa presença do sofrimento desde cedo parece ter relação com sua percepção de que a nossa própria capacidade de ordenar as coisas é tão pouca e tão frágil que muitas vezes não somos capazes de controlar nem o nosso próprio corpo (que dirá então de guiar o mundo na direção certa);
    • Algumas citações que mostram, inclusive - e isso é importante - sua reação ao fato:
      • "Quando eu era criança, todo mundo gozava da minha cara porque, trancado num quarto de doente por sete anos, eu era branco como um vampiro num país de gente morena. Não me lembro de algum dia ter-me ofendido seriamente com isso. Foi um grande erro. Hoje eu poderia desfrutar da maior glória que se concede a um ser humano na nossa época: ser um coitadinho. Estaria tão rico quanto o Lula." [Via Olavo de Carvalho no FB]
      • "Quando criança, mesmo doente e com febre eu ficava inventando histórias malucas que levavam as amigas da minha mãe a estourar de rir. Acho inteiramente justo o Youtube classificar os meus vídeos como 'humor'." [Via Olavo de Carvalho no FB]
  • II - um segundo problema, lá pelos 20 e poucos anos: Olavo, salvo engano, teve um problema bucal sério, além de, parece, problemas com emprego. Não tenho mais as melhores citações que caberiam aqui, algumas, inclusive, em vídeo, mas creio que foi por essa fase que tem o momento em que ele se ajoelha e fala a famosa frase: "quero aprender a entender as coisas mesmo que eu não seja capaz de contar para ninguém"
    • Foi por essa fase em que ele percebeu "o que sobra" quando tudo o mais desmorona. Ou seja, na vida comum não percebemos a quantidade de conforto que temos: se temos um corpo saudável (mesmo que imperfeito), se temos acesso a alguma comida, a algum trabalho, a alguma moradia etc., em geral tudo o que já temos, seja alguém mais simples, seja um sujeito de muitas posses, se torna o nosso parâmetro de medida, é "o mínimo necessário". É uma das ilusões da vida.
    • Alguns quotes úteis:
      • "Por que quando eu comecei a minha vida, por volta dos 20 e poucos anos eu cheguei à conclusão de que eu jamais seria ninguém. Estava tudo ferrado, eu não tinha a menor chance; então eu pensei, bom, vou começar a estudar pra ver se aprendo as coisas, mesmo que eu não consiga jamais contar para ninguém, você tá entendendo? E isso para mim era o suficiente, quer dizer, o mundo do conhecimento era o meu mundo, eu gostava, né; tanto que eu não fui publicar nada de mais importante até os quarenta e tantos anos." [Via Revista Esmeril]
  • III - um terceiro ponto seria seu interesse pela caça. Salvo engano foi na entrevista com o Lacombe citada no ponto I ele remenciona o fato de que se interessou enormemente por um livro de ficção sobre um caçador, e aquilo serviu de pilar da sua imaginação. Seu interesse por caça se prolonga até hoje. (É o famoso "pau no cu dos ursos".) Um dos pontos mais mal interpretados, visto que aqui no Brasil - até onde sei - não temos nada disso e, longe de querer investigar o assunto a sério, as pessoas pegam o afeto que têm por cachorros ou gatos, a ideia do ser humano ser maligno, e completam a história. 
    • O interesse por caça, por armas, remete diretamente à natureza e à exposição diante do perigo real que é, e sempre foi, a vida do ser humano na terra. Essa experiência, em geral nunca vivida por pessoas com condição média ou alta - eu incluso - rompe com as ilusões da vida burguesa, bonitinha, e marca na memória do sujeito a lembrança de que o mundo é uma luta constante para sobreviver. Pessoas mais humildes sabem disso na pele; com ou sem o confronto com uma situação mais selvagem, elas estão constantemente na situação de instabilidade perante a vida. Coisa que um funcionário público, por exemplo, não precisa conhecer. 
  • IV - um quarto ponto e que me chamou bastante atenção foi sua experiência de se perder no mato.  Acredito que tenha sido por volta dos 40 anos, quando Olavo foi em uma excursão, não lembro para quê nem sei onde, e lá ele se perdeu do grupo. Ali ele teve que sobreviver por uns 3 dias até conseguir sair e "se reencontrar com a civilização".
    • Alguns quotes úteis:
      • "A impotência gera o sonho de onipotência. Todo idealismo subjetivo — sobretudo os disfarçados, tão comuns na modernidade — reflete um desejo de fugir para um mundinho da nossa própria invenção. Não me curei disso estudando, mas ficando perdido no mato por quatro dias. NADA ali era o que eu pensava." [Via fanpage oficial]
      • "Pegue um ideólogo e jogue-o no meio do mato, sozinho, entre lobos e ursos. Quero ver quanto tempo dura a ideologia dele." [Via Olavo de Carvalho no Facebook]

Exemplos de manifestação do motivo

  • Gostar de morar no mato
    • Salvo engano é no filme O Jardim das Aflições em que ele fala sobre gostar do local em que escolheu pra morar na Virgínia por ser menos "civilizado" e mais "natureza. A razão disso é que quanto mais próximo da natureza selvagem, mais fácil é manter a lembrança da condição humana de mortalidade, luta constante por sobrevivência e dos próprios confortos, que são, antes, bênçãos, e qualquer coisa menos que isso não é demérito nem razão de reclamar  
  • Fugir do emprego público e da establidade dada por fora
    • Acredito que em parte seja, implicitamente, a causa da escolha por jornalismo como profissão, e mais explicitamente a recusa da aposentadoria, de um cargo público, dentre outas coisas, manifestadas com frequência no facebook 
  • "As ideias dos náufagos"
    • Consiste na diferença entre adquirir conhecimentos pelo puro gosto ou obrigação e adquirir conhecimentos ou transformar os já existentes em matéria útil para julgar sua ação no mundo. É transformá-los em orientação: "o que devo fazer", "como devo fazer", por exemplo.
    • "Ortega y Gasset dizia que as únicas idéias que valem são as idéias dos náufragos: na hora em que um sujeito está se afogando, agarrado a uma tora de madeira para não morrer, as coisas nas quais ele ainda acredita nesse momento são sérias para ele; o resto é brincadeira, superficialidade. Nós temos de buscar na filosofia essa mesma seriedade total, porque é ela que vai nos dar o critério do certo e do errado, do verdadeiro e do falso. Fora disso, se a sua própria investigação da verdade não é verdadeira, nenhuma conclusão a que você chegue significará nada. Se você quer apenas alcançar certas conclusões que sejam socialmente válidas, que sejam aprovadas por tais ou quais grupos, então não é filosofia que você quer. A filosofia é essencialmente uma busca pessoal na qual você mesmo vai ter de descobrir os seus critérios de certeza. Hoje em dia se fala muito de pensamento crítico, de “pensar por si mesmo”, mas eu nunca vi em uma universidade brasileira um sujeito que pensasse por si mesmo." (Transcrição da aula 1 do COF)
    • "Na hora em que o sujeito está se afogando e se agarra a uma tábua para não ser engolido pelas águas, quantas das idéias e crenças dele sobrevivem nesse momento? Algumas sobrevivem, decerto, mas a maioria não, e só uma fração muito pequena do que teve importância em outros momentos se conservará viva e atuante nesse hora. Se eu pudesse recomendar a vocês uma experiência que é particularmente educativa, nesse sentido, seria a experiência do risco de morte. Eu mesmo passei por isso muitas vezes na minha vida, e sei que isso é uma excelente peneira das suas idéias e interesses. Quase tudo aquilo que parecia importante dois minutos antes cessa de ter importância na mesma hora — mas nem tudo se perde, tem alguma coisa que sobra." (Transcrição da aula 4 do COF)
    • "A par do problema de como estudar existe a pergunta do que realmente lhe interessa. Para isso não há fórmula, mas quando eu dei o exercício do necrológio foi para colocar as pessoas para começar a pensar no que realmente lhes interessa e no que lhes tem valor. Há um lado da escolha dos objetos e da identificação da motivação interior. As duas coisas devem casar, de uma maneira ou de outra. É importante que cada passo nos seus estudos seja um passo na formação do seu caráter. Você está abrindo mais uma janela, criando mais um personagem imaginário, abrindo mais alternativas, ampliando o número de perspectivas pelas quais você encara o mundo. Você está se construindo, de certo modo, como ser humano, como consciência. O verdadeiro autoconhecimento consiste na capacidade de abrir estas coisas sem parar, e não em conseguir se descrever como: eu sou assim ou assado. Eu sei lá como é que eu sou, e pouco me interessa!"  (Transcrição da aula 8 do COF em resposta a um aluno que pergunta sobre a ideia dos náufragos)
  • A consciência da mortalidade (e da imortalidade da alma)
    • Sei que não li ainda alguns dos escritos mais relevantes no tema, então não posso colocar as melhores citações. Mas a primeira parte da ideia é praticamente deduzível das anteriores. A segunda parte consiste na meditação acerca do "o que sobra", como enunciado nas citações anteriores. Esse "algo", me parece, é o núcleo da personalidade e, portanto, da sinceridade, perante a Onsiciência. Ele é o "eu", em volta do qual está a mente, a memória, o corpo, a sociedade, o mundo e a História.
    • A consciência da mortalidade é a tentativa de lembrar da pequenez do que somos e da nossa capacidade, sobretudo perante o grande caos que é a natureza perante nós.
    • A única citação que tenho facilmente acessível é esta:
  • "Ideologia = merda" (tal como parodiado no Contra os Acadêmicos e cia.)
    • Aqui também não tenho muito a oferecer, mas é a noção do contraste entre qualquer tentativa de explicação para um fenômeno e a imensidão inabarcável do fenômeno em si. Essa noção, por sua vez, se expandiu para a questão das ciências, parciais, em contraste com a poesia e a filosofia, que tentam mostrar em palavras e descrever a essência dos fenômenos, respectivamente
    • Os quotes do item IV são úteis aqui também. Além deles, eu citaria também:
      • "Hoje entendo que, quando um jovem acredita que acredita numa idéia, está apenas embevecido com a perfeição do mimetismo. Muitas décadas decorrem antes de você perceber a diferença entre impregnar-se de um personagem e acreditar em alguma coisa. Tive a sorte de estudar o método Stanislavski com o Eugênio Kusnet e ter desde cedo uma vaga intuição de que, ao defender uma opinião, estava apenas fazendo teatro. Mas só entendi mesmo a diferença muitos anos mais tarde. Espero que meus alunos a entendam mais cedo." (Via fanpage do facebook)
  • A noção de filosofia 
    • Presente, por exemplo, na epígrafe do livro "O Mínimo que Você Precisa Saber para Não Ser Um Idiota": "Se você não é capaz de tirar de um livro consequências válidas para sua orientação moral no mundo, você não está pronto para ler este livro." Esta frase remete diretamente à noção de filosofia e, portanto, a das ideias dos náufragos
    • A noção de filosofia do Olavo, portanto, engloba as ideias anteriores. É o que ele implica ao dizer "unidade da consciência na unidade do conhecimento e vice-versa". Como Julian Marias na sua História da Filosofia revela essa ambiguidade da filosofia entre uma busca por orientação no mundo - como, por exemplo, associada a imagem de filósofo ao sujeito estoico, desapegado do mundo -,  e um corpo de conhecimentos específicos. Olavo juntou essas duas coisas: os corpos de conhecimentos específicos que constituem a filosofia, pela própria matéria tratada, são também resultado de - e resultante em- visões de mundo e, portanto, em maneiras de lidar com a vida real.
      • Não tenho citações boas à mão para aprofundarem exemplo, mas é quase que onipresente no trabalho do Olavo, visto que seus artigos, na verdade, seu trabalho em qualquer nível (das notas em tom popular do facebook aos livros com forma mais erudita), tenta abrir no leitor a possibilidade de perceber essa tensão entre o conhecimento e a vida, ou, em última análise, entre a consciência e a vida, a consciência e a natureza.
    • Todo o conhecimento não integrado desse modo se torna apenas acessório, ou, imagino (não domino bem o termo) "acidente". Isto é, o grande desafio é tornar os conhecimentos nossa "essência": não só algo que foi posto na nossa memória, mas algo a partir do qual moldamos nosso comportamento, isto é, nós nos mudamos, pela nossa própria escolha, a partir da compreensão que vamos adquirindo de como é o mundo (e nós mesmos). Fora disso, uma boa memória pode fornecer emprego e salário, status ou conforto (como registrado diversas vezes em Machado de Assis, a exemplo da Teoria do Medalhão ou dO Espelho, ou em Lima Barreto), mas perante a morte, onde tudo isso se desfaz em pó, de que vale isso? E, ao contrário, posso perguntar então: será que há algo que valha perante a morte?

Sugestões para o treino da imaginação no motivo

  • Filme: O Náufrago, 2000
    • Filme muito útil para pensar nesse assunto. "O que você faria se estivesse naquela ilha?" A cena da dor de dente para mim foi particularmente excruciante: eu me renderia ali mesmo.
    • Outro ponto interessante é a cena em que o náufrago fica com raiva do seu destino e mija em fúria no mar. Essa é a nossa medida. Bandeira tem um poema no Ritmo Dissoluto, "Mar Bravo", em que põe esse sentimento "As minhas cóleras homicidas, / Meus velhos ódios de iconoclasta, / Quedam-se absortos diante da vasta, / Pérfida vaga que tudo arrasta, / Mar que intimidas!". Que é a raiva do homem perante o mar? A gente esquece da absurda imensidão do planeta. O que é a raiva do náufrago perante a fúria do mar? E o que é seu mijo perante a água do mar? Essa medida, que torna a cena tragicômica, é a marca da nossa existência.


  • Animê: Fullmetal Alchemist (em particular o episódio 12), 2009
    • A ideia de alquimia, compreensão e recomposição do mundo, pode facilmente ser associada à ideia de filosofia. No episódio 12 os dois protagonistas, ainda na juventude, são largados em uma ilha para sobreviver por 1 mês contando apenas com uma faca e um com o outro. A intenção da alquimista que os pôs ali foi ensinar "gravando na pele" pela experiência prática o sentido de alquimia, ou, de outro modo, do ciclo da vida e da nossa pequenez - porém grandeza pela capacidade de consciência - perante ele.


  • Quadro: As Vaidades da Vida Humana, Harmen Steenwyck (século XVII)
    • Não entendo quase nada de quadros, mas imagino que talvez tenha sido uma referência à meditação do Eclesiastes sobre o ciclo da vida e o quanto a mesma vida se torna "fútil" perante a morte. A morte é simbolizada pela caveira, e cada um dos outros elementos representa um aspecto da vida: (ênfase para a flauta, que deve representar música ou a arte em geral e o livro, o conhecimento). "Vaidades das vaidades, tudo é vaidade".
    • [Se tudo é vaidade, o que sobra? - eis a questão]


Finalizo então o primeiro motivo. Tentei montar as sequências em evolução de relevância e profundidade. Não sei se o consegui, mas o mais importante nesse trabalho dos motivos não é memorizá-los, mas, principalmente, prestar atenção em aspectos do trabalho do Olavo que talvez tenham passados despercebidos. Mais importante ainda é, vendo esses motivos, parar para pensar sobre os seus próprios: o que, dentro da sua história de vida, aparece como um tema recorrente? Quais memórias, quais situações? Quais são, em suma, os seus próprios motivos? A ideia aqui é, colocando Olavo sobre esses critérios, abrir a possibilidade de refletir no leitor, como refletiu em mim.
Não sei se serei capaz de cumprir com esse objetivo, mas tentarei ao máximo.


terça-feira, 6 de outubro de 2020

Listagem dos Motivos

Como dito anteriormente no post Sobre este blog e categorias principais, a intenção desta categoria de classificação da obra do Olavo tem a intenção de fornecer "unidades mínimas", como motivos melódicos numa música, a partir das quais enxergar melhor a obra do Olavo, seja a escrita formal, a informal ou a falada (no COF, por exemplo).

Na tentativa de procurar esses "motivos", a listagem inicial se dará nos seguintes termos - Olavo e sua relação com:

  • A natureza
  • O Brasil
  • A arte
  • O jornalismo
  • A psicologia
  • O esoterismo
  • O Partido Comunista Brasileiro
  • Revistas médicas
  • A filosofia
  • Religião comparada
  • O exército

Ou seja, o que estou afirmando de fato é que o conteúdo existencial principal que alicerça as ideias do Olavo deve estar contida nessas categorias, de modo que quanto mais se busque meditá-las, uma a uma ou em conjunto, mais se aprofunda em seu trabalho como um todo.

Os motivos estão listados de maneira, até onde entendo, mais ou menos cronológica, na medida em que esses focos de interesse foram aparecendo na vida do Olavo. Uma vez surgidos, não foram embora. Um motivo é uma causa de interesse que, uma vez aberta, se prolonga e "evolui" ao longo da vida do sujeito - como na analogia do motivo musical. Assim sendo, será feito um post com esses motivos e neles eu tentarei juntar material para compor uma ideia de como funciona e quais as bases sólidas que o Olavo conquistou nesse processo de desenvolver o motivo.


Correndo o risco de fazer papel de trouxa, mas com confiança menos na capacidade individual do que na possibilidade cognitiva, espero que estes posts possam servir de alguma maneira não como versão definitiva, mas como a luz de uma pequena vela que ajude a localizar o caminho.


sábado, 8 de agosto de 2020

Entrevistas em Vìdeo

Entrevistas em vídeo tiradas do site oficial do Olavo.

[falta arrumar; algumas não são propriamente entrevistas, outras estão indisponíveis e não consegui encontrá-las em outros links. Aparentemente a da Brasil Paralelo é privada aos assinantes do site e, por isso, foi removida do youtube]. 

Essas são as entrevistas oficializadas no site, mas Olavo participou de uma imensa quantidade de hangouts que, para propósitos catalográficos, valeria a pena registrar. 





*A: Existe um áudio do true outspeak [https://olavodecarvalho.org/true-outspeak/] que não sei a que se refere, só sei que marca a data 4 de maio de 2009. Nessa data existe um true outspeak, constando neste link: https://www.youtube.com/watch?v=BmwZuJctThw, mas não sei por quê está lá na sessão de Entrevistas em Vídeo.


Entrevistas em torno do Olavo

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Lista de Aulas Públicas do Curso Online de Filosofia

A lista que postarei abaixo é das "aulas públicas" do Curso Online de Filosofia, isto é, as aulas disponíveis em canais oficiais do Olavo para o público em geral, de modo gratuito. O COF é o curso que ocorre dentro do site Seminário de Filosofia, e o acesso a ele custa 60 reais mensais. Até o momento do post (03/07/2020) o curso consta com 524 aulas. São 11 anos de trabalho com uma aula por semana, sendo sua primeira aula no dia 14/03/2009.

Uma curiosidade é o fato de que durante esse período, passamos por diversos fenômenos no país, por exemplo: os Protestos de Junho de 2013, a ascensão de uma fase de protestos no país, a Operação Lava-Jato, um crescimento e "revelação" do conservadorismo brasileiro, o Impeachment de Dilma, a popularização e eleição de Bolsonaro etc.. Como o Olavo se toma principalmente como filósofo político (ainda não sou capaz de compreender bem o termo), ele tenta relacionar sempre os fatos filosóficos com a política do dia, de modo a encaixá-la em um plano maior. Ele também diz, numa dessas aulas, que - parafraseio sem palavras exatas - não adianta ficar "brincando" de filosofar enquanto o mundo em torno se desmorona. Daí que essas aulas costumam ter algum conteúdo mais urgente e imediato e que vale a pena ser posto para o público.

Uma das ênfases do Olavo, também não lembro bem onde ele a faz, é não recomendar que se assistam as aulas do próprio curso sem plena consciência do que se faz, e sem o devido acompanhamento da sequência. O "cofeiro diletante", em geral pirateiro, cai no risco de entrar na categoria de alunos que Olavo chama de "burros". Ele fala, num vídeo curto, que salvo engano chama-se "o que estou fazendo aqui?": "se você é inteligente, eu vou fazer de você ainda mais inteligente; mas se você for burro, você vai sair daqui louco". Esse risco é real. Posso explicar melhor depois.

As aulas públicas, porém, podem ser assistidas por qualquer um, independentemente de fazer ou não o COF. Em relação ao conteúdo habitual do curso elas são, por assim dizer, os livros de divulgação científica (O universo numa casca de noz, alguém?) em comparação com as aulas de Bacharelado de Física. São também, por assim dizer, aulas para incentivar - não pelo espetáculo, mas pela urgência do assunto em questão - os alunos a se inscreverem no COF e participarem do restante das aulas. Acreditem, faz "bem à inteligência".

Para os que não sabem uma aula do COF tem 2 partes. A primeira é a exposição do Olavo, a segunda é a parte em que ele responde perguntas dos alunos. Na aula ao vivo podemos ver esse período de pausa em que ele mexe no computador, anda, encapa livros, fuma, conversa com pessoas (com o áudio da gravação desligado), e, enfim, lê as perguntas. Esses trechos não são inseridos na aula oficial do Seminário. A aula volta e ele, com as perguntas já mais ou menos escolhidas, lê-as e as responde. Ficamos, portanto, apenas com essas 2 partes, onde há sempre esse corte entre elas. Digo isso porque serve para entender melhor o que escrevi abaixo.

Dito isso, há 2 fontes de aulas gratuitas do Olavo: o canal Olavo de Carvalho, fundado em 07/07/2007 e o canal do Mídia sem Máscara, fundado em 17/06/2007. Para melhor dar uma noção de ordem, eu misturarei as aulas e colocarei em ordem cronológica segundo o momento de publicação no Seminário de Filosofia. Segue abaixo a lista.


Lista de Aulas Públicas do Curso Online de Filosofia

[Em ordem das lições, não da data de postagem no youtube]


O PODER SECRETO - Aula 23 do COF 29/08/2009
Data de publicação no youtube: 29 de jul. de 2019; Canal do Olavo
Aula 21 - 29/08/2009
Status: Trecho de aula. No título diz que é a aula 23, mas na verdade é a aula 21.
https://www.youtube.com/watch?v=KtpxGQPUDq8
Nota: Prestar atenção para a data de publicação do vídeo. É do ano 2019, mas a aula é de 2009. Como decidi colocar em ordem cronológica das aulas em si, ela veio para cá.

Olavo de Carvalho - Lançamento de "Maquiavel ou a Confusão Demoníaca"
Data de publicação no youtube: 2 de ago. de 2011; Canal do MSM
Aula 116 - 30/07/2011
Status: Completa
https://www.youtube.com/watch?v=_E_g-P9v6eM

A filosofia e seu inverso
Data de publicação no youtube: 21 de fev. de 2012; Canal do MSM
Aula 142 - 18/02/2012
Status: Há cortes de trechos desnecessários (ajuste de voz etc.); a câmera é outra; não tem a parte das perguntas. Tempo total da aula 02h13m
https://www.youtube.com/watch?v=lk4oMi3B5wY

Trecho do Curso Online de Filosofia - Olavo de Carvalho - 01 de setembro de 2012
Data de publicação no youtube: 3 de set. de 2012; Canal do MSM
Aula 170 - 01/09/2012
Status: Trecho retirado da primeira parte, expositiva, de 1h28m27. O vídeo se encerra no início da parte das perguntas. Tempo total da aula: 2h2m
https://www.youtube.com/watch?v=9NHYiqXBb-A

Aula do Curso Online de Filosofia - Olavo de Carvalho - 06 de abril de 2013.
Data de publicação no youtube: 12 de abr. de 2013; Canal do MSM
Aula 199 - 06/04/2013
Status: Primeira parte completa. Tempo total da aula: 1h6m
https://www.youtube.com/watch?v=FJaHf9kFA7s

Análise da atual situação política brasileira
Data de publicação no youtube: 28 de jun. de 2013; Canal do MSM
Aula 208 - 22/06/2013
Status: Tem cerca de 3 minutos cortados sobre trivialidades pessoais do Olavo e "propaganda" de curso; fora isso, a aula está completa na primeira parte; a segunda parte está faltante. Tempo total da aula: 1h35m
https://www.youtube.com/watch?v=CRENnVnRWTQ

Lançamento de "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota", de Olavo de Carvalho
Data de publicação no youtube: 19 de out. de 2013; Canal do MSM
Aula 224 - 19/10/2013
Status: Completa
https://www.youtube.com/watch?v=0oc65pBVNhc

COF - Aula 237
Data de publicação no youtube: 2 de fev. de 2014; Canal do MSM
Aula 237 - 01/02/2014
Status: Completa
https://www.youtube.com/watch?v=K4AvvvTpl5c

Cultura e personalidade - Aula 286 do Curso Online de Filosofia
Data de publicação no youtube: 30 de mar. de 2015; Canal do Olavo
Aula 286 - 28/03/2015
Status: Completa
https://www.youtube.com/watch?v=QPhIWgfsjPM

Trecho da aula 287
Data de publicação no youtube: 6 de abr. de 2015; Canal do Olavo
Aula 287 - 04/04/2015
Status: Apenas trecho. Tempo total da aula: 1h31m
https://www.youtube.com/watch?v=KwPbBVPu0cI

Breve análise da atual situação política brasileira
Data de publicação no youtube: 20 de set. de 2015; Canal do Olavo
Aula 308 - 19/09/2015
Status: 1ª parte completa. Tempo total da aula: 1h53m

O Brasil perante a nova ordem mundial
Data de publicação no youtube: 15 de nov. de 2015; Canal do Olavo
Aula 316 - 14/11/2015
Status: Completa

COF - Trecho da aula 322
Data de publicação no youtube: 17 de jan. de 2016; Canal do Olavo
Aula 322 - 09/01/2016
Status: Apenas trecho. Tempo total da aula: 1h18m

COF - Trecho da aula 323
Data de publicação no youtube: 6 de fev. de 2016; Canal do Olavo
Aula 323 - 16/01/2016
Status: Apenas trecho. Tempo total da aula: 1h33m

COF - Trecho da aula 329
Data de publicação no youtube: 6 de mar. de 2016; Canal do Olavo
Aula 329 - 05/03/2016
Status: Apenas trecho. Tempo total da aula: 1h32m

COF - Trecho da aula 338
Data de publicação no youtube: 19 de jul. de 2016; Canal do Olavo
Aula 338 - 21/05/2016
Status: Apenas trecho. Tempo total da aula: 1h27m

COF - Trecho da aula 376
Data de publicação no youtube: 25 de mar. de 2017; Canal do Olavo
Aula 376 - 18/03/2017
Status: Apenas trecho. Tempo total da aula: 1h15m

Olavo de Carvalho - Aula 432 do Curso Online de Filosofia
Data de publicação no youtube: 26 de jul. de 2018; Canal do Olavo
Aula 432 - 22/07/2018
Status: Completa.

Curso Online de Filosofia - Aula 433 28/07/2018
Data de publicação no youtube: 16 de mai. de 2019; Canal do Olavo
Aula 433 - 28/07/2018
Status: Completa. [Nota: Há uma dessincronização do áudio com a imagem na 2ª parte da aula, mas isto faz parte da aula oficial tal como está no site do Seminário.]
https://www.youtube.com/watch?v=CeahwoI-ygk
Nota: Prestar atenção que na data de publicação este vídeo vem depois da aula 468. Como decidi colocar na ordem das aulas do Seminário, ele vai para após a aula 432.

Análise do livro "Em defesa do socialismo", de Fernando Haddad.
Data de publicação no youtube: 16 de out. de 2018; Canal do Olavo
Aula 443 - 12/10/2018
Status: Completa, com exceção de +/- 1m30 cortados, foi no complemento de uma resposta na parte das perguntas. Tempo total da aula: 1h3m59s

Aula 468 do Curso Online de Filosofia 20/04/2019
Data de publicação no youtube: 21 de abr. de 2019; Canal do Olavo
Aula 468 - 20/04/2019
Status: Completa
https://www.youtube.com/watch?v=ILZEz-3Yz2A

Aula 491 C.O.F.- 26 10 2019
Data de publicação no youtube: 27 de out. de 2019; Canal do Olavo
Aula 491 - 26/10/2019 [Participação especial: Rodrigo Gurgel]
Status: Completa

Aula 492 do COF - 02 11 2019
Data de publicação no youtube: 3 de nov. de 2019; Canal do Olavo
Aula 492 - 02/11/2019
Status: Completa
https://www.youtube.com/watch?v=FrH1c6JHZk8

Aula 521 06 06 2020
Data de publicação no youtube: 6 de jun. de 2020; Canal do Olavo
Aula 521 - 06/06/2020
Status: Completa [+ Adendo, abaixo]
https://www.youtube.com/watch?v=-xK69yPTXUk

Adendo à aula 521 06 06 2020
Data de publicação no youtube: 6 de jun. de 2020; Canal do Olavo

Aula 524 27 06 2020
Data de publicação no youtube: 28 de jun. de 2020; Canal do Olavo
Aula 524 - 27/06/2020
Status: Completa
https://www.youtube.com/watch?v=S7U9-78a6sw


Listagem das aulas disponíveis: 23, 116, 142, 170, 199, 208, 224, 237, 286, 287, 308, 316, 322, 323, 329, 338, 376, 432, 433, 443, 468, 491, 492, 521 (+adendo), 524
Total: 25 aulas

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