domingo, 28 de junho de 2020

Um Rascunho Incompleto sobre as 12 camadas da Personalidade

Contextualização


Fiz o blog com uma intenção, talvez um pouco apressado, e só depois foi que percebi que boa parte dos temas que seriam relevantes de serem expostos aqui eu não sou capaz de expor. Honestamente, até o momento também não conheço pessoalmente quem esteja capacitado para expô-los com o rigor que uma wiki (decente) exigiria. Mas confiando na intenção do blog, vou tentar mantê-lo na medida do que me for possível. A parte mais interessante dele creio que será os "motivos", mas estou sem o material no momento para montá-los.

Desculpas à parte, ontem consegui assistir ao filme do Mauro Ventura sobre o José Bonifácio, tomando o Bonifácio como um personagem de camada 11 - isto é, um "Napoleão brasileiro", para facilitar. E hoje por acaso acabei me deparando com a seguinte frase, atribuída a um dos grandes intelectuais de peso da minha região, Câmara Cascudo:

Se não é possível atinar para que vivemos, todo o esforço consciente é tentar sentir como vivemos.
Triggered. Fui pesquisar a frase. Encontrei-a em 2 sites: em um havia um discurso onde a frase se inseria da seguinte maneira:

Não poderia haver contribuição mais notável para a cultura do nosso país, aquela que foi doada por alguém que o fez pensando da seguinte maneira: “se não nos é possível atinar para que vivemos, todo o esforço consciente é tentar sentir o como viveram e vivem em nós as culturas interdependentes e sucessivas, de que somos portadores, intérpretes, agentes e reagentes no tempo e no espaço.”
Que coisa linda: “sentir como viveram e vivem, EM NÓS, as culturas interdependentes e sucessivas de que somos portadores.”
Certo? Ok. O lugar de onde tirei a frase inicial foi de um jornal online, onde tentam colocar Cascudo como um bom-moço que aprovaria o uso de máscaras para proteger do corona vírus. É no mínimo provável que essa reportagem seja uma tentativa desesperada de proteger a imagem de Cascudo, já totalmente destruída na academia, diante das atuais ameaças do Antifa à demolição da sua estátua. Não que adiante muito salvar a estátua quando já se conhece o homem só pelo seu lado negativo.

Entrando no Tema

A questão que se tira daí são duas: primeiro, Câmara Cascudo é tomado como o maior intelectual do estado do RN. Segundo, não só isso, como a posição dele, o "não sabemos para que vivemos, mas podemos conhecer como vivemos" é tomada também como o ápice da consciência e capacidade humanas. E isso na verdade é sintoma de um problema.

Preciso enfatizar que existe uma "regra" nas 12 camadas que consiste em: não se pode compreender as camadas que estejam acima da sua. Ou seja, um adolescente não entende as preocupações do pai (e por isso não obedece nem se preocupa), um adulto mediano não entende as preocupações de um poeta tão preocupado em procurar a palavra precisa para alguma coisa, o poeta não entende as preocupações de um grande e sério líder de estado, e o líder, por sua vez, não entende as preocupações de um profeta. Digo isso porque eu particularmente me considero "camada 4", ou, no melhor dos casos, "camada 6". Então minha análise é invariavelmente incompleta e burra, mas por imaginação o próprio texto nos abre a possibilidade de tentar conceber como são as outras camadas - é com essa técnica que tentarei descrevê-las.

Vi alguns vídeos refutando a teoria, e são verdadeiramente uma palhaçada. Primeiro porque um texto filosófico, no mínimo, não é algo para dizer se está certo ou errado - ele é uma chamada para meditar sobre certas questões que são abertas a partir dele. No mínimo essas questões são mais importantes do que detalhar. E, aliás, são delas que tratarei aqui. Um segundo momento é averiguar a relação do texto filosófico com as referências que aponta e, afinal, com a questão, ou o status quaestionis. O vídeo, do canal Psicamente, é basicamente um deboche ateu acompanhado de um conceito de personalidade que não é o mesmo do usado no texto - e, portanto, não estão sequer falando da mesma coisa, mas o autor do vídeo não atinou nem para isso.

Para simplificar, e também por burrice e preguiça, eu vou usar personalidade como "o potencial de auto-consciência" e camada como "o estágio em que estão as preocupações principais da personalidade". Vou tentar abordar o tema sem o cristianismo. É que quando se chega na camada 12 "o indivíduo perante Deus", o pessoal acostumado à educação laica fica bravinho e não entende nada.

As 12 camadas, só que não (exposição incompleta)

Como não tenho acesso aos textos nem aos estudos, só a minha vida e à imaginação, eu não posso falar das 3 primeiras camadas. Tudo o que sei delas é que dizem respeito à fase pré-nascimento até mais ou menos a infância. E que todos passamos por essas 3 camadas, com exceção de quem possa ter nascido com deficiências sérias e não adquira sequer a linguagem, por exemplo.

Meu foco será nas camadas 4 à 12, que são acessíveis ou por experiência ou por imaginação, visto que estamos sempre lidando, na cultura, com adolescentes ou adultos. Então eu remoto a frase adaptada do Cascudo - "se não é possível atinar para que vivemos, todo o esforço consciente é tentar sentir como vivemos" - a fim de abrir certas questões que o texto do Olavo permite conceber.

1- Costumamos usar a palavra "intelectual" para nos referir a tipos muito distintos. Será que não há "tipos diferentes" de intelectuais?

2- Idem, de líderes?

3-  O entendimento de um texto depende da posição em que estamos na vida?

4- O que movia os grandes líderes? E os profetas?

5- Por que Raskolnikov (Crime e Castigo, de Dostoiévsk) não conseguiu "ser um Napoleão", mas Napoleão conseguiu?

6- É possível equacionar e classificar os autores de psicologia/psicanálise e atribuir a eles um foco específico?

As camadas 4 em diante são mais fáceis de se enxergar, em certa medida. A 4 é a da criança que precisa ser amada, chamar a atenção dos pais etc.. Não sei se todos tiveram a experiência de ter que pedir aos pais até para ir ao banheiro, por precisar da permissão, do aval da autoridade. Não vou me alongar muito, mas é importante usar do texto para abrir a atenção para observar a criança nesse estágio.

A camada 5 é quando o jovem já não quer mais o aval dos pais, e, ao contrário, está perante outra autoridade, a do grupo, ou a de si mesmo. É nessa etapa que ele quer "ser diferente", achar seu espaço, e então testa seus poderes no mundo. É os rapazes na festa competindo entre si para ver quem pega mais mulheres, ou a mais bonita, e vice-versa, as mulheres tentando ver quem fica com o cara mais legal, mais forte, mais alto etc.. É o sinônimo da juventude, da "rebeldia" - e que, aliás, pode continuar ao longo da vida, ainda que misturado com outras preocupações que a vida vai impondo, no caso, por exemplo, do rapaz que ainda esteja em fase de rebeldia, mas tenha engravidado uma moça e acabe sendo forçado a construir uma família. Novamente, há muito o que se observar a partir disso, para medir, comparar, pensar no assunto.

A camada 6 é quando essa competição já não importa, e o "ser diferente" vai perdendo espaço. É na hora em que é preciso pensar em ser útil, é quando começamos a nos preocupar com nossos pais, que trabalham muito, que nós somos inúteis por não ajudar nas contas etc. É aqui que entra de forma consciente a vontade de ter emprego, de fazer direitinho as coisas.

Sobre a camada 7: no processo de tomar posse de uma vida que saia do grupo de referência para entrar propriamente na sociedade, entramos no estágio de ter que assumir conscientemente "personas". É uma das grandes questões que vejo repetidas o tempo todo, são o ápice da consciência humana para muita gente. "Eu não sei quem sou porque uma hora eu tenho que ser de um jeito, outra hora de outro, e assim somos nós, sempre usando máscaras, incapazes de nos conhecermos realmente". Essas questões estão ligadas à camada 7. Eu particularmente pude imaginar esses temas por ser muito curioso e ter me metido em muitos grupos diferentes, e daí vi que em cada grupo entrava só uma parte de mim. Exemplo: um lado meu é otaku, então há um conjunto de temas e piadas que eu posso falar, e outras que seriam inapropriadas para meus amigos otakus. De outro lado olavette, idem. De outro lado universitário, idem. De outro lado participante de uma família, idem. Vizinhos, idem. E assim por diante. Esses "recortes" a gente faz o tempo todo, mas na camada 7 haveria uma tomada de consciência progressiva, que culmina nessa impressão poética de que só há máscaras, só há papeis sociais, não há "O Homem", e, portanto, o homem é uma máquina que serve ao mundo. Another brick in the wall. E nada mais. É, por assim dizer, a morte do adolescente que queria ser diferente, e, me parece, uma das razões de não querermos jamais amadurecer. É o medo de "virar igual aos outros" que nos impede de buscar compreender as normas sociais, dos grupos etc., e tomar posse da sociedade.

Antes de entrar na camada 8, é preciso enfatizar: "Ah mas você disse que estava na camada 4!" Eu falo desses temas não porque eu os seja, mas porque de tão curioso, observo tudo, guardo o que vi, comparo, meço, e não tento julgar "para baixo" quem eu sei que está acima de mim. Essa é minha única garantia.

Pois bem: a camada 4 tem uma exceção, que é ou quando a pessoa não recebeu amor suficiente da mãe ao longo da puerícia/infância, ou quando o sujeito "trava" por medo ou timidez (dá no mesmo) e evita testar o seu poder. Dito de outro modo: ser exibido, ser bobão e ficar disputando com outros é parte do processo de amadurecimento. Eu, que sempre evitei isso por uma "suposta humildade" (mentira) acabei por não passar por um amadurecimento convencional. Teve seus prós e contras, na minha situação particular, mas em geral o resultado não é bom. Eu creio que seja a situação que Olavo associou com o poema "Par delicatesse j'ai perdu ma vie" (por delicadeza perdi minha vida), verso do poeta francês Arthur Rimbaud. Isso acontece muito na situação brasileira, e é uma das coisas que o Ítalo Marsili, por exemplo, mais tenta combater. É porque nessas situações o sujeito permanece com uma carência de atenção o resto da vida, e isso atrapalha todo o resto da sua existência: o trabalho, a família etc., se é que ele consiga isso. Em geral, é mais levado pelas circunstâncias externas e, no máximo, pelas internas (o desejo sexual, a curiosidade, no melhor dos casos), e fica "à deriva".

Deixo essas ênfase para melhor mostrar, por exemplo, as questões colocadas no começo. "Será que existe um intelectual que tenha grau acadêmico, mas seja camada 4? E 6? Qual seria a diferença?" Posso mostrar um pouco depois.

Dito isso, agora continuemos: é da Camada 8 em diante que o jogo fica interessante, mas antes de entrar nela, gostaria de deixar umas citações para apoiar no processo.

Cultura não é só aquisição de conhecimento, é a formação de uma personalidade ao mesmo tempo arraigada na realidade histórico-social concreta e capaz de transcendê-la intelectualmente. (A citação, que acho maravilhosa, é de 2015).

Eu gosto de apontar essas citações para tentar mostrar que Olavo fala sempre da mesma coisa, mas, como usa termos diferentes, isso passa batido muitas vezes. Do que ele está falando na citação acima? Da busca constante de se chegar à camada 11, no mínimo.

O ser humano foi feito para se transcender. Tem que deixar sua vida queimar como um pavio, porque é isso que vai iluminar o ambiente. (...) O ser humano existe para isso. É o único bicho que pode fazer isso. Um gato não pode ser superior a um gato, ele nunca vai superar a sua gaticidade. Alguém tem que começar dando o exemplo  (do filme do Bonifácio, considerado camada 11).

O que chamamos ascese espiritual, até onde entendo, é como o processo que ocorre com Raskolnikov em Crime e Castigo, ou no filme Aurora, de 1927, de que Olavo tem um ensaio maravilhoso presente no livro "A dialética simbólica: estudos reunidos". É um passo na tomada de consciência do "quem eu sou verdadeiramente", a tomada de consciência da minha relação com a minha história, o meu meio e, portanto, as ações que devo tomar - que são mais adequadas. Dito de outro modo, é uma tomada progressiva de posse de uma consciência do bem e do mal. É no mínimo nesse sentido que se usa a palavra "Deus", é porque o processo da camada 8 em diante implica também a tomada de posse de uma noção ao mesmo tempo objetiva e pessoal de Bem e Mal. Antes disso, é de fato apenas "convenção social", e, pelos trabalhos universitários que se vê atualmente, se se fala tanto em convenções sociais, é precisamente porque o máximo a que conseguimos chegar em geral é a 7ª camada, é a da máscara. E, afinal, se tudo é convenção, não há Bem e Mal objetivo. Ora, mas ainda há 5 camadas acima a percorrer.

Faz parte da realidade da vida você não saber quais são os elementos que determinaram seu sentido. Mas também faz parte da vida você poder compreender o sentido do que está acontecendo. Eu não sei quem foi que fez chover, nem com qual intenção, eu sei que para a ordem constitutiva da minha vida, neste momento, a chuva tem um sentido muito nítido.
O sentido, o que é? É a obrigatoriedade moral de uma ação, que por sua vez faça sentido dentro do caminhar da minha vida e dentro da minha própria identidade. Sendo eu quem sou, vivendo do jeito que vivo, tenho a obrigação de fazer isto assim e assado, pois só assim minha vida fará sentido. Viktor Frankl daria pulos de entusiasmo se visse esse filme. (Do ensaio sobre Aurora, 1999. É preciso notar que a trazida à tona na cultura brasileira o nome de Viktor Frankl é perfeitamente intencional). [negrito meu].

Por exemplo, você monta um armazém. Depois de uma crise econômica na Zâmbia, que muda o comércio internacional de um produto, seu armazém afunda. Você não precisa conhecer essa crise econômica toda, não precisa saber onde ela começou e não precisa saber o tamanho dela. Você sabe apenas que seu armazém afundou. Agora, eu lhe pergunto: você quer ver o tamanho do inimigo que liquidou seu armazém? Quer ver o tamanho do elefante que pisou em cima de você ou não? Quer conhecer realmente o que determina sua vida?Note que não estamos falando de causas sobrenaturais, estamos falando de causas socioeconômicas. Nesse momento, a maior parte das pessoas baixa os olhos como o personagem da "Máquina do Mundo" [Drummond]. Não quer ver, e não querendo, volta à condição de animalzinho - o bichinho vivente cuja vida não tem sentido, cuja vida não precisa ter sentido, e que só espera morrer o mais rápido possível. (pp.299-300 do mesmo ensaio).
Todas essas citações estão falando na mesma coisa. Volte à palavra "identidade", da penúltima citação. Até o momento o máximo de identidade que possuímos é a civil (camada 7) que recebemos desde o instante em que somos registrados em cartório e, com o RG em mãos, somos considerados cidadãos, ou seja, membros do todo que é a sociedade.  Mas existe uma outra espécie de identidade, que é a que vem quando nos perguntamos "mas, afinal, quem eu sou?"

É evidente que são poucos no nosso meio que chegam aí. Porque é nesse estágio que as máscaras que fizemos caem e, de tanto trocar, relembramos que temos um rosto. Um rosto cheio de cicatrizes, marcas, com certa cor de olhos, um nariz mais fino, mais longo, achatado etc.. E aí entra a percepção de que há um "eu". Isto é, eu faço certos recortes para estar num grupo, e outros para estar em outro, mas há um todo, que se não está presente para as pessoas, está para mim, porque eu sei que sou mais do que aquilo que apresento ao grupo otaku, ao grupo olavette, à minha família, aos meus vizinhos. E, ao contrário do adolescente da 5ª camada que quer ser diferente, original, quer ser "sempre ele mesmo" (como também na 6ª camada, me parece), aqui há o descanso perante o público, mas o desassossego para buscar entender a própria história. "Quem eu fui, o que eu fiz, o que vivi, o que essas coisas falam de mim, como me fizeram ser quem sou" etc.. Essa é a camada 8. Claro que para entender "quem eu sou" eu vou ter que mexer com o meu meio, presente e passado, e tentar achar as conexões entre ambos. Olavo afirma que aqui é o adulto maduro médio em condições normais.

A camada 9 em diante diz respeito a talentos. Pelo que entendo é a descoberta e desenvolvimento a partir da personalidade intelectual. É aqui que entra, pelo que imagino, a preocupação com um "objeto". De repente você vê na sua história um interesse que se manteve relativamente constante, mudando aqui e ali as maneiras de expressão, e você decide apostar sua vida nessa coisa. É aqui que surgem os grandes escritores, os grandes músicos (Olavo usa como exemplo Beethoven), e, por assim dizer, uma "segunda identidade". Como assim?

Acho bom como exemplo falar de um ator. Harry Potter, o Homem de Ferro, Neo do Matrix etc., não são Daniel Radcliffe, Robert Downey Jr., Keanu Reeves, mas a gente forçosamente associa as duas identidades, em parte porque ninguém conheceu a pessoa real diretamente, mas só através do filme em que representaram seus papéis. Do mesmo modo ocorre com um Ariano Suassuna, que assumidamente "brincava de ator" nas palestras, ou Mário de Andrade. Em suma, como eu mostrei no post sobre o estilo literário de Olavo, não há como negar que haja a criação intencional de um personagem. E a fonte é precisamente essa busca da primeira identidade, a física, na tentativa de conhecer um objeto. A diferença entre o ator comum e o personagem de 9ª camada é que este tem intenção consciente (personalidade), enquanto que o ator é associado com a imagem do personagem por obrigatoriedade das circunstâncias do seu trabalho.

É nesta etapa que acredito estar Câmara Cascudo. Nesta etapa não existe "sentido do mundo", mas existe sentido numa curiosidade voraz por conhecer um objeto, a ponto de que conhecer isto seja mais importante do que sua vida pessoal. Cascudo dedicou sua vida a conhecer o "como vive" do povo. Viveu isso, estava em contato com pescadores, com gente comum, com rituais de todos os tipos, e descreveu isso extensivamente. É pela incapacidade de compreender a intenção acima do homem, e, pior, de compreender a utilidade da obra, que surgem as situações que vemos hoje. Não havendo quem mostre o valor (precisaria alguém igual ou acima de Cascudo), sua obra se banaliza, sua figura se desmonta, e "o diabo atenta". É também o que ocorre com Olavo, apesar de no caso dele a coisa estar em nível muito pior porque sua camada também é maior.

Descoberto o talento, buscado seu aprofundamento, se aprofundamos também nas condições do meio, entramos consequentemente na camada 10, que eu entendo como a camada em que se adquire um senso de bem do mal mais elevado. Até a camada 9 "Bem" é fazer o seu trabalho direito, com exceção, entre a camada 8 e 9, que na camada 9 o "seu trabalho" não é mais uma profissão, e sim esse esforço de dedicar a vida a entender esse objeto. Ora, mas esse objeto tem consequências na vida da sociedade. Por exemplo, se estudo literatura, então "para que serve literatura?", "quais os efeitos da literatura no meio?", "quais os efeitos de certa literatura, e de outra?", "existe literatura que faça mal às pessoas? E existe a que faça mais bem?". Um grande poeta não precisa responder a nada disso, basta conhecer seu ofício com perfeição. Do mesmo modo, na obra de Cascudo não vi, até o momento, qualquer indicativo dessa intenção. Camada 9 pode ser também um grande programador, um grande músico, enfim, qualquer pessoa que dedique interesse o bastante a um objeto que lhe atrai não por ser sua profissão, mas porque sua curiosidade te obriga a pensar nele, a sonhar com ele. É sua própria existência que está ali.

Um exemplo popular, que, acredito eu, não é propriamente 9ª camada, mas é claramente a personalidade intelectual, a "personagem", é o cantador nordestino. O cantador nordestino, mesmo analfabeto, surge, pelos casos que vi e ouvi falar, de uma "inspiração". Ele não pode ser feito "de fora pra dentro", não se ensina isso. É uma vida devotada ao cantar, que é passado "quase por mágica" quando uma criança vê um outro cantador e aquilo desperta dentro dele o desejo profundo de aprender aquilo. Não acredito que seja 9ª camada mesmo o cantador bem desenvolvido porque não há a aquisição ativa, de um lado, dos aspectos da vida (tomar posse de si, do meio, do trabalho etc.), e, de outro lado, da variedade da habilidade. Muito menos haveria aqui a subida à camada 10.

A camada 10, portanto, é quando dessa habilidade intelectual, bem desenvolvida, se busca entender quais seriam as melhores escolhas para o meio.

A camada 11, por sua vez, é quando, daí, se adquire também a responsabilidade de liderança nesse quesito. Aqui, suas escolhas são tomadas perante o desenvolvimento da história. para atingir a camada 10, obviamente será preciso conhecer o seu meio além do que foi necessário na camada 8 para compreender sua história, e, aprofundando essa "relação" entre o eu, a história do eu, o meio e a história do meio, o sujeito toma posse da capacidade de tomar decisões que ele sabe, em certa medida, claro, quais efeitos gerará para o futuro. Ainda que não tome uma posição de poder (seja na literatura, na arquitetura, no governo de um país), que, se tomada, mudaria o curso comum dos eventos muito além da sua área, ele sabe do poder das suas decisões, e, mais que isso, as pessoas em volta também o percebem. A ascensão nas camadas gera uma "autoridade natural", aparentemente inevitável.

A isso se pode tentar objetar: "ah mas Mário de Andrade elaborou a Semana de Arte Moderna, e isso mudou o curso do Brasil, que antes era Parnasiano." Calma. A Semana de Arte Moderna foi apenas uma aplicação local do modernismo, uma tendência que já estava ocorrendo fora do Brasil, e que, aliás, muito do que foi feito aqui foi inspirado em artistas de lá, pelo contato direto até. Camada 11 seria a busca por quem gerou as condições históricas para ocorrer esse fenômeno - eu mesmo não sei. Camada 10 ou 9 quem criou o movimento inicialmente, e assim sucessivamente, chegando até o poeta comum de hoje que copia o estilo de 1922 e vai pra eventos exibir sua poesia porque assim se sente satisfeito/cheio de si/gostosão/pegador (camada 5).

Então, concluindo, a camada 11 seria a auto-consciência perfeitamente consciente da relação do meio com a história e de si mesmo com a história. Mas então, o que vem depois disso? O que pode vir? O que está acima de Napoleão ou de Bonifácio?

Já falamos sobre a conquista da identidade pessoal, de uma habilidade, da relação com a habilidade e o que faz "Bem" ao meio, e, afinal, da posição desse Bem perante a História. A última etapa da relação "Bem e Mal" a que o "homem comum" pode chegar é a relação entre a sua posição história e a "História Ideal". Essa é a 12ª Camada. Adão e Eva teriam que ser "camada 12" para não comerem do fruto proibido, por exemplo. É, no mínimo, nesse sentido que se fala da relação do Homem com Deus.

Fala-se muito na literatura sobre ela ser "universal", mas não se medita sobre o significado disso. Com o pouco que sei, eu diria que universal significa que há constantes do Homem. Há um Bem e um Mal objetivos, e que podem ser conhecidos. A 12ª camada implica estar na posição de saber, além de qual o Bem que eu posso fazer com a minha habilidade perante o curso da história, qual o Bem que eu posso fazer perante o "Homem", em sentido universal, esse mesmo Homem que se busca conhecer pela literatura (ou fora dela).

Eu imagino que a 12ª camada seria o momento em que se entende para além da História, a relação entre as Tradições Espirituais (a Bíblia, o Torá, o Alcorão, e mesmo os outros livros fundantes de civilizações) e a civilização. E, quanto mais se avança, melhor se concebe não só essa relação, como também a relação entre as tradições umas com as outras. É só aqui que se pode falar de "Deus" com plena consciência. Antes disso, Deus é uma palavra que mascara outra coisa: (em ordem crescente de camadas, mas não na sequência precisa) um ódio à sua família evangélica, um conceito incompreensível, o sentimento legado por uma tradição, o Bem, a Fonte do Bem (ou Sumo Bem).

Se prestarem atenção, as 12 camadas é uma linha progressiva entre a descoberta da sensibilidade pessoal, e seu processo de ascensão e "apoteose", no sentido de tornar a percepção cada vez mais objetiva. Sai da necessidade de ser amado (que é subjetiva) para a necessidade de ser forte, e até aqui está sempre no eu presente, nos desejos e impulsos presentes. De repente salta-se para a necessidade de ser útil (já sai um pouco desse "eu presente"), para a necessidade de se encaixar nos diversos meios (e aqui entra a sociedade presente), para a necessidade de compreender esse eu histórico e sua relação com a sociedade (agora saltou dos estados do eu presente para os estados do eu histórico). De repente salta-se novamente para uma coisa fora do eu (mas que existe dentro do eu pela curiosidade), para sua relação com a sociedade, para sua relação com a história e, por fim, para sua relação com a História.

Em nenhum momento é uma "negação do eu", mas é a mudança do foco, dos estados emocionais presentes para uma morada mais "permanente", que se encontra ao mesmo tempo no interior do "eu" e fora dele.

Então, quando vem um vídeo como o do Psicamente analisar as 12 camadas, é óbvio que ele não fala pensando em todo esse processo de evolução. Ele apenas pegou o texto, viu coisas esquisitas e tentou brincar com isso. Isso porque é provável, até pela idade, que ele não chegue sequer ao posto do Câmara Cascudo, que passou a vida conhecendo algo, mas que não via "sentido" na existência para além desse objeto. Se ele chegou a isso, que falar dos que estão em torno de sua obra e tomam ele como o ápice da consciência humana, implicando, portanto, não estarem sequer próximos desse patamar de auto-consciência?

Pior, como seria possível que essas pessoas defendessem o "Cascudo real" (camada 9), se sequer chegaram ao seu nível de compreensão do mundo? Mas quanto menos pessoas capacitadas a isso, mais fácil se torna a Destruição. Uma boa fofoca é suficiente para envenenar a imagem já desgastada pelo tempo e incendiar em protestos que destruirão apenas o símbolo (a estátua) de algo que já foi na verdade destruído há muito tempo.

Há, evidentemente, muito mais que se poderia ser tratado do assunto, mas acho que esse texto é o bastante para iniciar um pouco o tema.

Mídia Sem Máscara na TV [19 programas]

Fui atrás do material sobre o Mídia Sem Máscara. Sabe-se que o site está atualmente fora do ar. Pelo que entendi o site foi criado em 2002 pelo Olavo junto da filha Maria Inês (lembrando que ele ainda morava no Brasil até 2006~2007), e tinha a intenção de abrir espaço para notícias que não eram veiculadas na mídia brasileira, e para comentar, com olhares diferentes dos habituais, as que eram noticiadas. O site, segundo Olavo, era feito com dinheiro do próprio bolso, e os participantes eram voluntários que se interessavam pela causa. Entre os nomes envolvidos houve: José Monir Nasser (atualmente falecido, mas se tornou conhecido nas palestras feitas nos lançamentos de livros da É Realizações e também pelo seu trabalho de iniciação à cultura), e, parece (esses eu não conheço): José Nivaldo Cordeiro, José Osvaldo de Meira Penna, Janer Cristal, entre outros.

O "Programa Mídia Sem Máscara", parece, foi um programa semanal estreado em 2004, aparentemente era transmitido para Curitiba e São Paulo pelo programa Boa Tarde Curitiba nos canais TV Millenium em São Paulo e Canal 21 em Curitiba [a informação ainda não foi bem averiguada]. (Apoio da descrição do canal Renan Maçaneiro). Aparentemente foram ao todo 19 programas - ou ao menos foi isso o que foi gravado e postado no youtube. Por essa informação poderiamos dizer que o programa durou 19 semanas, ou uns 5 meses.

O programa é como um True Outspeak, mas neste o Olavo está sozinho - e portanto pode abordar as questões no seu próprio modo e estilo -, enquanto que no Mídia sem Máscara ele divide espaço com outros colunistas do site.

É preciso fazer uma ressalva: o programa 9 não estava no canal onde mais facilmente se acham os outros vídeos. Esse "programa lendário" eu encontrei em outro canal mas não tive ainda como checar se efetivamente é o 9º programa ou não. Vou postá-lo mesmo assim.

Abaixo deixo a lista de programas.

Mídia sem Máscara na TV - 19 programas
Programa 1: https://www.youtube.com/watch?v=DJfsCssVU5M
Programa 2: https://www.youtube.com/watch?v=cUdMtkn9Mw4
Programa 3: https://www.youtube.com/watch?v=z-SSHTP66aI
Programa 4 [gravação incompleta]: https://www.youtube.com/watch?v=BviBrm_H6j8
Programa 5: https://www.youtube.com/watch?v=VcFbDriVHv0
Programa 6: https://www.youtube.com/watch?v=zlGegc1lvA0
Programa 7: https://www.youtube.com/watch?v=ZqYjujvrMlA
Programa 8, parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=fPIL7VzKviI
Programa 8, parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=kgWOcKTr6SY
Programa 9: https://www.youtube.com/watch?v=ciGWBR9KPb8
Programa 10: https://www.youtube.com/watch?v=F6aSJpptzhQ
Programa 11: https://www.youtube.com/watch?v=yJF3_vPCOtc
Programa 12: https://www.youtube.com/watch?v=aZ8e8Hu3LKE
Programa 13: https://www.youtube.com/watch?v=g4Vq1Tjlpf0
Programa 14: https://www.youtube.com/watch?v=Zjzy_j3-dac
Programa 15: https://www.youtube.com/watch?v=GkAR_G9Wtl0
Programa 16: https://www.youtube.com/watch?v=CCraDJ0frng
Programa 17: https://www.youtube.com/watch?v=yABNqxi26Rs
Programa 18: https://www.youtube.com/watch?v=d3_4iH2Bo9I
Programa 19: https://www.youtube.com/watch?v=jcy5odWelhU


Bônus:
Os 2 primeiros vídeos estão disponíveis também no canal Mídia Realista, com uma proposta de nivelar os áudios (eu não assisti), e junto com uma listinha de temas. Vou compartilhá-la, mas incentivo a visita ao canal.

Programa 1https://www.youtube.com/watch?v=IJwbO2QIf2U
Mídia Sem Máscara na TV - Programa 1

↓↓↓LISTA DE TEMAS ABORDADOS↓↓↓

A razão da existência do programa Mídia Sem Máscara 1:56
O trauma da Mídia desde a Ditadura Militar 3:34
A influência esquerdista na Mídia brasileira 6:03
A mentalidade revolucionaria da Mídia brasileira 6:56
O nascimento do Mídia Sem Mascara 7:57
Marisa Marques apresenta os colunistas 11:48
Sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal 14:14
Porque razão o Brasil tem tantos municípios? 15:15
O perfil e número médio de visitantes do site MSM [em 2004] 18:22
Como são contratados os colunistas do MSM? 20:23
Os jornalistas sabem que estão passando informações falsas? 23:20

A referência da Mídia brasileira 24:18
Sobre o anti-americanismo ideológico 26:52
Porque não confundir MSM com Mídia Fiscal 30:53
A grande omissão da Mídia sobre o Foro de São Paulo 32:55
A influência do Foro de São Paulo na política do Brasil 39:55
O que é Comunismo e Socialismo? 44:55
A falsa imagem que o brasileiro tem do Comunista 47:52
A estratégia das tesouras -- Lenin 51:46
A posição do MSM diante a campanha do desarmamento 53:15
A distorção da informação pela Mídia brasileira 1:00:18
A falsa oposição do Governo do PT 1:01:33
A influência de Antonio Gramsci 1:05:58
Quem financia o site Observatório da Impressa? 1:09:24
Quem financia o MSM? 1:10:08
Considerações 1:11:09
A idolatração do sistema cubano pelos políticos 1:12:26
Partidos que não são comunistas ou socialistas 1:16:34
O que está por trás da eleição de 2002 1:18:30
A complexidade da assistência pública 1:22:10

Programa 2https://www.youtube.com/watch?v=uFpl8tzDDPo
↓↓↓LISTA DE TEMAS ABORDADOS↓↓↓

Apresentação do Mídia Sem Máscara na TV
O Estado exige o desarmamento, mas não é capaz de proteger o cidadão de bem 2:16

Candido Prunes analisa a situação do campo, reforma agrária e MST 5:00

O interesse de Candido Prunes diante a realidade do campo 5:54
A perversidade da Reforma Agrária 6:57
O tamanho médio de propriedade rurais no Brasil 9:14
A polêmica em volta do latifúndio é ideológica 10:09
A agricultura não é negócio para amadores 12:14
O raciocínio da Reforma Agrária não é econômico, e sim político 13:42

Daqui 50 anos a Europa perderá 100 milhões de pessoas 17:00
Os políticos vivem da miséria alheira 19:00
A onde vai parar o dinheiro desses programas de combate a pobreza? 23:52

O governo historicamente freia a prosperidade do cidadão 25:21
Qual é o papel do MST na Reforma Agrária? 27:33
Olavo de Carvalho não tem ambição política 29:25
O teatro do MST 30:50
A esquerda dominou a Mídia 37:07
A semelhança do bizarro Ludismo e MST 37:59
A visão poética do movimento da agricultura familiar 41:27
A revolução da conservação de alimentos 44:23
O cidadão hoje gasta menos com alimentação 45:08
Um grande Salto para Frente - Mao Tsé-Tung 46:10
Quanto menos pessoas no campo, menos devastação ambiental 47:31

A espetacular agricultura chinesa diante a miséria dos seus agricultores 48:19

China, a vitrine esquerdista 49:39
Atualmente o maior êxodo rural da história da humanidade acontece na China 50:14

Porque a extrema direita é melhor que a esquerda? 52:27
A demagogia da pobreza para uma autoridade moral 53:35
A proposta de Candido Prunes para as pequenas famílias agrária 56:38

Comentário sobre o livro O País dos Coitadinhos - Emil Farhat 58:44
Comentário sobre o livro O Brasileiro Pocotó - Luciano Pires 59:48
Critica aos recursos desperdiçados ao combate a pobreza 1:01:19
Qual é a finalidade social das terras do MST? 1:03:36
Comentário sobre o livro A Ignorância Custa um Mundo -- Gustavo Ioschpe 1:04:09

A tragédia da educação brasileira em relação à tendência de empregos no setor de serviços 1:05:33

A União Européia e entidades religiosas investem no MST 1:09:22
O ideal é que o Governo não se intrometa na vida dos outros 1:11:00

O Governo e empresários alimentam ONGs e programas sociais inúteis 1:12:52

O mito do latifúndio opressor 1:16:33
Porque os MST são tão defendidos? 1:19:13
A educação deveria ser o foco 1:21:29
Porque o Vestibular é instrumento de manipulação? 1:22:42
A ignorância explica a utilização da Reforma Agrária 1:23:28
Os esquerdistas não tem moral de solucionar os problemas do mundo 1:24:25

O Brasil não partido de Direita ou conservadores 1:25:37
Leitura do final da carta dos ludistas 1:27:17

Heloísa de Carvalho - a polêmica da filha - Entrevistas em Vídeo

Este post ainda não será a versão organizada. Aqui eu pretendo reunir os hangouts e entrevistas em vídeo que a Heloísa veio fazendo ao longo do tempo. Até onde consegui entender do assunto, antes da polêmica carta dela, as fontes de onde viam as ideias anti-Olavo eram principalmente, em ordem de relevância: Carlos Velasco, Caio Rossi, Orlando Fedeli e Jorge Velasco. Com a entrada da filha nesse embate, que prontamente se associou com os irmãos Velasco - tenho prints a respeito, mas levaria um bom tempo para achar - ao menos por afinidade de objetivos, é óbvio que as acusações desses 4 receberam um respaldo público muito maior. Atualmente é preciso notar também uma forte influência do Henry Bugalho - que, aliás, publicou livro "anti-Olavo" junto com a Heloísa (Meu Pai, O Guru Do Presidente: A FACE AINDA OCULTA)

Nota: A própria Heloísa de certo modo criou um ambiente próprio - tem canal, tem blog - e, apesar de seu foco maior aparentemente ser falar a respeito do pai, ela também tem dado entrevistas e falado a respeito de outros assuntos ligados à política do momento. Nenhum desses vídeos será listado aqui: o foco é só em relação a entrevistas ligadas ou a Olavo ou ao livro.

Aqui vão as entrevistas que consegui coletar até o momento:

Entrevistas com a Heloísa sobre o Olavo

Eduardo Lima - Anti-imperialismo
Filha de Olavo de Carvalho conta todo o passado obscuro do pai
21 de fev. de 2018
https://www.youtube.com/watch?v=7CACr7-cmwA
[Carlos Velasco está junto]

Independente
Olavo de Carvalho processou a própria filha: ela explica o caso da carta aberta (Entrevista)
25 de out. de 2018
https://www.youtube.com/watch?v=chQU5kBrsFA
[Nota: não sei porque, mas é o mesmo vídeo do canal Dani Schwery]

Independente
Filha de Olavo de Carvalho foi processada pelo autor e comenta carta aberta (versão curta)
26 de out. de 2018
https://www.youtube.com/watch?v=SXzDCtTXC94

Dani Schwery
Filha de Olavo de Carvalho conta sobre abusos e abandono na infância
Estreou em 27 de out. de 2018
https://www.youtube.com/watch?v=6NiZ_0lDPDs

O Historiador
QUEM É OLAVO DE CARVALHO? PART. HELOISA DE CARVALHO (FILHA DO GURU)
Transmitido ao vivo em 29 de nov. de 2018
https://www.youtube.com/watch?v=Rlgrv6zkJto

Henry Bugalho
QUEM É OLAVO DE CARVALHO? BATE-PAPO COM HELOISA DE CARVALHO
Transmitido ao vivo em 3 de dez. de 2018
https://www.youtube.com/watch?v=sRTO9tcEgas

Bella Ciao Connection
Entrevista Heloísa de Carvalho - A filha do "guru" de Bolsonaro.
9 de fev. de 2019
https://www.youtube.com/watch?v=TMc4erc6njE

Psicamente
A MENTE DE OLAVO DE CARVALHO! UM PAPO COM HELOISA DE CARVALHO
Transmitido ao vivo em 24 de mar. de 2019
https://www.youtube.com/watch?v=4k9NLbQR6x0
Nota: é o canal que fez a análise das 12 camadas que usamos de base aqui no site

Projeto Ezequiel 33
Heloisa de Carvalho Martin Arribas & Projeto Ezequiel 33: A Verdade Escondida
Transmitido ao vivo em 13 de mai. de 2019
https://www.youtube.com/watch?v=qLOqB5Sch2g

Projeto Ezequiel 33
Heloisa de Carvalho & Projeto Ezequiel 33: O Outro Lado do Odalisco
Transmitido ao vivo em 20 de mai. de 2019
https://www.youtube.com/watch?v=fSVWDnJX3eE

IRMÃOS DE PÁTRIA TV
HANGOUT ESPECIAL COM HELOISA DE CARVALHO!
Transmitido ao vivo em 7 de dez. de 2019
[ela não apareceu aparentemente]
https://www.youtube.com/watch?v=Eo05QYxxKso

Revista Fórum
Heloisa de Carvalho, filha de Olavo, abre o jogo e conta tudo
Transmitido ao vivo em 5 de mai. de 2020
https://www.youtube.com/watch?v=_1Uk1eoQ7EY

IRMÃOS DE PÁTRIA TV
📺 As Revelações de Heloísa de Carvalho Parte 1
📺 As Revelações de Heloísa de Carvalho Parte 2
📺 As Revelações de Heloísa de Carvalho Parte 3
Estreou em 13 de fev. de 2020
14 de fev. de 2020
19 de fev. de 2020
https://www.youtube.com/watch?v=-m1O-NHA78k
https://www.youtube.com/watch?v=7lf7hCg1Wiw
https://www.youtube.com/watch?v=6RJxJ31z_qs
[Luiz Rangel, André Massari, Tatá Leonardo, Tiago Castro]



Entrevistas sobre o Livro
Registrado em 15 de janeiro de 2020 segundo a Amazon. Antes o nome era associado a " Kotter Editorial", atualmente parece estar na "Editora 247". Há entrevistas antes disso, não sei como foi esse processo.
[eu só comecei a ver, deve ter mais vídeos]
TV 247
'Meu pai, o Guru do Presidente – a face ainda oculta de Olavo de Carvalho' - em primeira mão
Transmitido ao vivo em 17 de dez. de 2019
https://www.youtube.com/watch?v=G54SPnCh7pg

DCM TV
Filha de Olavo de Carvalho conta o que deixou de fora de seu livro sobre o guru (23.12.19)
Transmitido ao vivo em 23 de dez. de 2019
https://www.youtube.com/watch?v=lytbXxf3CH8

Band Jornalismo
Filha de Olavo de Carvalho lança livro sobre o pai
9 de jan. de 2020
https://www.youtube.com/watch?v=s44EQBPi9xw

Bella Ciao Connection
Filha de Olavo de Carvalho e Henry Bugalho falam do livro sobre o guru do presidente.
Estreou em 11 de jan. de 2020
https://www.youtube.com/watch?v=wxkbMvuxIQc

Cine Cultura com Cris Siqueira
Heloisa de Carvalho Meu Pai o Guru do Presidente
15 de fev. de 2020
https://www.youtube.com/watch?v=RhtOIzYQP9k

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Entrevista e Palestra em Bucareste, na Romênia em Junho de 2011



  • Nota: segundo consta nos comentários, ela está com os devidos cortes da tradução, que foi feita em simultâneo para o romeno. Esse fenômeno pode ser observado também no 3º clipe da entrevista. Nas outras manteve-se o original com a tradutora (de voz muito agradável, por sinal).


Entrevistas [incompleto]

Para não deixar  conteúdo faltando, resolvi coletar também esse material, em boa parte já reunido no próprio site do Olavo, e ao qual eu, de xereta, colocarei aqui na estrutura organizacional (ainda pobre) do site. As entrevistas já listadas no site oficial estarão em negrito, para distinguir das restantes que eu possa encontrar no percurso. [Data de coleta: 22-06-2020].

    •  [2] 20 de julho de 1997 - Revista República – Wagner Carelli entrevista Olavo de Carvalho
      • Link: LINK QUEBRADO

Notas úteis: 
- Entrevistas em texto:
  • A 2ª entrevista está com o link quebrado. Não consegui encontrar outro link. Quem tiver acesso, por favor, repasse.
  • As entrevistas ocorridas pelas beiradas de 1998 (3,4,5) dizem respeito ao período em que Olavo passou em Bucareste, época, aliás de confecção do material que gerou o livro "O Futuro do Pensamento Brasileiro" (as entrevistas [a completar])
  • Entre os anos 1997-2001, mas sobretudo nos dois últimos (00-01) houve uma chuva de entrevistas. Em 2002 houve uma a um site aparentemente informal - enquanto antes havia no Globo, em revistas etc. -, seguido de um hiato de 4 anos. Claro que existe o fator da ausência de publicação de livros e, nos "anos quentes", foi o efeito dos lançamentos bombásticos e polêmicos do Olavo. Mas é interessante deixar a nota mesmo assim.
    • O site em questão só tem registros via wayback machine até 2003, fortalecendo a hipótese de ser um site informal. Parece ser de Salvador, Bahia.
    • Não sei se tem alguma coisa a ver, mas existe de fato uma apostila do Olavo registrada em Salvador. De repente há alguma relação entre os articulistas do site e os possíveis alunos que ele pode ter tido na região.
  • A entrevista de 08 de setembro de 2013 foi em ocasião do lançamento de "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota" (20 de agosto de 2013, segundo o google books)

Outras entrevistas:



domingo, 21 de junho de 2020

Assíntota

Assíntota faz parte das "Figuras de linguagem" mais utilizadas por Olavo. É um termo usado sobretudo na matemática ao tratar de funções e gráficos, e representa a aproximação infinitesimal da função de uma reta à qual nunca se chega efetivamente.

Os dois modos mais comuns de assíntota: horizontal (aproximando-se de uma reta imaginária horizontal) e vertical (aproximando-se de uma reta imaginária vertical).

A imagem da assíntota representa principalmente uma busca sucessiva a qual nunca se chega por completo. É o limite dos "4 discursos", ou o "limite do conhecimento", visto que a maior parte dos conhecimentos não nos chega de forma direta, mas sim através de testemunhos e, portanto, não há nem toda a informação - o que seria impossível -, além de poder haver erros no depoimento (mentira, esquecimento, confusão ocasional etc.). Ora, todo o conhecimento histórico cai nesse problema; todo ele. É possível buscar recursos para amplificar a medição da certeza, e aí vão haver diversas ferramentas legadas pela tradição, mas não é possível ter uma plena certeza tal como ou o conhecimento lógico (representado pelo ideal da assíntota) ou o conhecimento adquirido pelo testemunho direto.

Dessa maneira a assíntota representa a humildade de reconhecer nossa falibilidade necessária perante o conhecimento.

É também uma imagem complementar à do círculo concêntrico, visto que, se de um lado a integração implica absorver em círculos cada vez maiores o passado e o futuro através de um presente que lhes atribua significado (sentido) positivo, ou para cima, a assíntota nos relembra que é impossível abarcar todo o nosso passado, como todo o nosso futuro, pela mesma razão da falibilidade. Quem lembra de tudo o que já viveu? É impossível, a memória não é capaz de lembrar tudo - ainda que, talvez, segundo alguns, fique de algum modo armazenado ali, mas, mesmo nesse caso, o todo é inacessível à consciência.

Desse modo, reconhecendo cada vez mais os limites, é possível buscar meios de se aproximar mais para conhecer - e oferecer aos que nos ouvem - uma verdade mais pura, mais completa, mais, enfim, verdadeira.

A Língua Literária (em Olavo)

É preciso deixar claro que eu não tenho capacidade nem tempo de fazer um estudo aprofundado dessa questão. Portanto, não fiz isso. Porém, creio que posso ao menos introduzi-la por alguns lados para pelo menos mostrar que ela existe - e daí, aberta a possibilidade, o próprio leitor deve começar a buscar mais exemplos não só para verificar o que eu disse, como para aprofundar.

Como não sou estudioso aprofundado em nada, vou usar uma definição temporária do termo a que me refiro: língua literária significa, aqui, a intenção aplicada à palavra, como no escultor é a intenção aplicada ao mármore ou outra matéria-prima, e o flerte é a intenção aplicada à conquista do outro enquanto parceiro sexual (e, afinal, não é, pelo filósofo píton, a intenção das intenções?)

Como assim? Vamos lá.

O primeiro exemplo que me despertou para a questão foi um texto que me passaram do Leandro Karnal. Eu não lembro qual era o texto, mas tinha algo a ver com cultura, e era basicamente um jeito chique de chamar as pessoas "metidas a eruditas" de asnos. No texto, aliado à sua argumentação - que na verdade era bem pobre - ele citou uma imensidão de livros de várias áreas que comporiam o que a gente chama de "Grandes Livros da Literatura Ocidental" (o nosso cânone geral, tanto em História, em Literatura, em Ciências Sociais etc.). Você lia o texto dele e, como leitor-médio brasileiro, chegaria à conclusão de que é burro mesmo, e se é burro, os outros são ainda mais por se acharem inteligentes, e que, afinal, o Karnal é inteligentíssimo. De fato, eu também não li quase nenhum desses livros ainda, e apesar de não ter recebido esse efeito - que me pareceu efetivo diante das pessoas que me falaram do texto -, saí, afinal, com a impressão de que era burro mesmo, e tinha muito o que ler ainda. Certo? Bom, mas ele poderia ter escrito só a argumentação sem citar tantos textos. Pelo que me lembre, eram realmente desnecessários, exceto quando levada em conta essa intenção. Isso é um esboço da "intenção literária", mas melhoremos essa ideia.

Vamos evoluir um pouco as possibilidades. Concordam que um texto de ENEM tem uma "forma"? "Nos últimos anos temos visto acontecer....", "Concluímos que...". Do mesmo modo, a linguagem acadêmica tem um estilo, que é diferente da linguagem jurídica, que é diferente da empostação que o repórter faz na fala ao transmitir a notícia, que é diferente, afinal, da língua que você usa para falar com o crush no zap zap? E ninguém fala como Machado de Assis, certo?
Brbr

Não vou nem falar dos memes. Miseri-córdia. Mentira, vou sim.

"Mano, tu é?" ("Tu é?" É o quê, caramba?!), "Nunca nem vi", "senhora?", "eu queria estar morta", suco de laranja, e, para os mais velhos, "se eu pudesse eu matava mil". Essas frases imediatamente evocam em vocês lembranças, certo? São frases que têm um efeito cômico imediato e que a gente aplica - junto, na internet, com imagens e vídeos - nas conversas. E elas funcionam, tornam o discurso mais atrativo, mais "íntimo", porque ao usá-las, você acessou não só o código comum da língua, mas sim memórias afetivas geradas pelo "meme". Não dá para usar esse recurso ao falarmos com nossos pais, ou, pior ainda, com nossos avós. Não vou nem dizer de gente que fale outra língua que não a "língua BR" (português brasileiro). Entendem o que quero dizer? O discurso feito com memes está repleto de intenção, mesmo que seja aparentemente banal. A gente sabe distinguir quando pode e quando não pode usar, com quem pode, quem é mais provável de decodificar a mensagem corretamente etc.. Isso também é "intenção literária".

Existe, assim, a "língua-padrão", hipotética, mas cada contexto - o da redação de ENEM, o jurídico, o acadêmico, o das conversas do zap, o dos textos de Machado de Assis etc. - terá uma língua própria com seus próprios termos, estilos, permissões e impertinências etc., de modo que nunca falamos "português brasileiro", mas sim essas diversas línguas, de acordo com nossa capacidade e interesse em participar (falar e entender) do grupo. Isso não parece ser assim porque como tudo tem uma "essência-comum" (português), não percebemos no dia a dia quando mudamos de código de discurso. Mas isso ocorre, e o tempo todo.

Essa ação fica muito mais visível quando você tentar ler um texto clássico em idioma estrangeiro. Fiz meus testes com textos japoneses (eu sou otaku, então, né), e digo a vocês: é OUTRO MUNDO. A língua dos animes, dos mangás, das músicas - enfim, a língua pop - é extremamente pobre. Não vi um autor literário japonês que não fale de questões budistas o tempo todo, e precise de um imenso vocabulário, totalmente diferente do "pop" para fazer isso. É assustador, e cheio de nuâncias. É só nessa hora, por exemplo, que você entende que o conselho "pense no idioma que está aprendendo"  só serve porque nunca pensamos de verdade. É impossível, por exemplo, ler uma linha que fale sobre "zankoku" - mesma pronúncia, mas escrita de um jeito significa crueldade; escrita de outro jeito, a do texto, significa "impassividade" - e, precisando usar o dicionário para entendê-la, pensar na ambiguidade do seu significado (e que tem MUITO SIGNIFICADO) no próprio idioma. É im-pos-sí-vel. Eu teria que jogar fora essas ideias, e elas têm imenso valor não só para a obra, mas em si mesmas. Não entrarei em detalhes.

Dito de outro modo: dizem para lermos pegando as palavras "por contexto", sem recorrer ao dicionário. Mas, você já experimentou fazer o contrário? Seria o caso de tomar a língua portuguesa (nossa língua materna) como língua estrangeira. Querem ver no que dá? Pois bem. Vou citar exemplos.

  • Macunaíma de Mário de Andrade
  • Romance da Pedra do Reino de Ariano Suassuna
  • Dois irmãos de Milton Hatoum
  • o artigo "As prostitutas no dicionário", artigo do Imbecil Coletivo II do Olavo (se ele ler isso eu vou levar um supapo)
Olavo diz, em algum lugar que não recordo, algo como "levaria muitos anos para um estrangeiro dominar o português para conseguir ler meus textos". Diz ele também:
Mas a arte de resumir todo um argumento numa frase breve, de impacto brutal — que tantos me condenam como se fosse prova de não sei que sentimentos ruins — aprendi mesmo foi com três santos: S. Paulo Apóstolo, Sto. Agostinho e S. Bernardo. Tudo tem um preço. Ninguém pode imitar os santos, nem mesmo em literatura, sem escandalizar uma intelectualidade pó-de-arroz. (Ainda a arte de escrever).

Uma das coisas mais deliciosas da minha vida é ver os meus alunos aprendendo rapidamente a arte de condensar realidades complexas em frases curtas e contundentes. No dia em que o Brasil tiver cem escritores capazes de fazer isso, nosso povo nunca mais será ludibriado. ("Olavo de Carvalho no Facebook", site, 2016)
Passei décadas criando um estilo literário que fosse a síntese do erudito e do brega. Consegui, mas, para compensar, ficou impossível de traduzir. Talvez só em romeno, língua cujos usuários têm uma tradição de humor absurdo parecida com a do Brasil. ("Olavo de Carvalho no Facebook", site, 2017)
As máquinas de traduzir serão a morte da literatura, reduzindo toda a linguagem pública ao jargão administrativo e jornalístico. ("Olavo de Carvalho no Facebook", site, 2019)
Cada vez que descubro entre o português e o inglês uma expressão intraduzível, fico maravilhado com o milagre da linguagem. (idem)
Vou começar pelas citações, e então retorno aos autores (e lembrem do tal do texto do Karnal que, ainda que fosse fictício, já que infelizmente esqueci o título, serve de exemplo genérico). O que é "impressão intraduzível"? Ora, zankoku, como disse acima, é uma. "Saudade" é um exemplo que muito se usa - depois explico. Mas os memes, em grande parte, por mais simples que sejam, são intraduzíveis. Ser intraduzível significa que não dá para captar todos os efeitos ao mesmo tempo. Se você diz "I've never seen that" não vai evocar o rapaz da prisão, não evoca o ritmo da fala (que é parte da graça) e, pior, o falante de inglês que leia pode até conhecer outro exemplo em mente, do país dele, que gere outro efeito, talvez até mesmo oposto ao desejado. É porque por trás da expressão estão as referências que a geraram. Não vou nem falar do recente "mano, tu é?" (= "tu é gay, é?"), porque, PELO AMOR DA LÍNGUA UNIVERSAL DE BABEL, se você chegar para qualquer ser humano e perguntar "are you?" ele vai te olhar com cara de paisagem e esperar pelo menos um adjetivo ou substantivo, QUALQUER COISA. Essa referência de fundo precisa estar sempre presente. É sempre assim.

Mas, mesmo em termos mais gerais, a palavra "coragem" do português, por exemplo, é mais intraduzível do que "saudade". Coragem tem o poder de significar duas coisas ao mesmo tempo: 1- Bravura ("você precisa de coragem para enfrentar os obstáculos"); 2- Ânimo ("eu estou sem coragem de trabalhar hoje"). E o que raios bravura tem a ver com ânimo? Alguma coisa deve ter, se a palavra diz as duas ao mesmo tempo. Resta descobrir. Eu é que não vou falar disso aqui.

Saudade é conhecida como intraduzível por causa do longo histórico afetivo com a palavra, que eu chutaria que tem a ver com o fado português. É óbvio que a expressão "estou com saudades" dá para dizer em qualquer língua. "I miss you" (sinto sua falta) ou "aitakatta" (queria te encontrar). É óbvio que dá. Mas ela não tem o peso afetivo que a palavra saudade nos trouxe com seus usos, com as músicas que falam dela, o tom melancólico do MPB, do fado etc.. Essa é a distinção real, não é só por ser um substantivo. "Ah mas é um substantivo, então..." você pode julgar o "porque" de ter surgido como substantivo, no que afetou etc. (eu não sei), mas qualquer verbo que expresse a ideia de saudade pode ser adaptado no discurso para o valor de substantivo. Então o diferencial real do termo é, de novo, esse fundo de referências que nos traz e que é intraduzível, porque não dá para ensinar MPB, fado, e tantas outras coisas na mesma hora em que fala o termo. Esse é o problema de que Olavo fala das "máquinas de traduzir". Ok?

A intenção literária a que me referi décadas acima consiste em ter consciência do idioma, dos diversos códigos, das referências de fundo e, afinal, expressar o que se quer expressar tanto no conteúdo quanto nas escolhas de escrita. Eu vou melhorar a explicação.

Todo bom autor tem uma intenção constante. Essa intenção cria de si um "personagem". Ariano Suassuna é, talvez, o "sertanejo erudito", Mário de Andrade é o "pan-brasileiro", Milton Hatoum é o "amazonense", Olavo é o "brasileiro brega-erudito". Não sei o suficiente de nenhum para fechá-los corretamente, mas para exemplo das obras é suficiente.

Percebi isso principalmente graças ao Ariano Suassuna. Você deve saber que suas peças de teatro vieram de cordéis, certo? No auto da compadecida ele pegou 3 cordéis e amarrou-os em um enredo só. O que eu me lembro e que será útil para a explicação é o "cavalo que defecava dinheiro". Atenção! Cavalo! Defecava! No auto o Suassuna faz uma passagem incrível entre um enredo e outro. Após a morte do cachorrinho Xaréu (eu rio até hoje com esse nome), João Grilo tem a ideia de vender um gato à patroa, ex-dona do cachorro, para pegar dinheiro dela. E, para introduzir a proposta do "cachorro que descome dinheiro", ele lança: "quem não tem cão caça com gato". O grande problema da língua literária é que ela requer ou a comparação com o que poderia ter sido dito ou a compreensão dos códigos, o que, afinal, dá no mesmo. O que Suassuna fez aqui foi costurar dois cordéis populares com um ditado popular; não sei qual dos dois atos veio primeiro, se elaborar a história a partir do ditado, ou se o ditado veio para complementar a história, mas o fato é que: 1- não faria sentido trocar um cachorro adorado  por um cavalo; 2- "descome" enfatiza o estilo cômico e inocente da peça; 3- tudo isso amarrado com o ditado expande o sentido dele, agregando unidade à obra e valor para expandir o dito popular; 4- coitado do gato! (nem vou falar da originalidade do Suassuna).

Com menos "sacadas", mas com igual "intenção literária", é possível aprender a prestar atenção nas escolhas de cada autor. É impossível ler Macunaíma de Mário de Andrade sem um dicionário e o wikipédia do lado. Ele recheia o livro inteiro com termos indígenas, de plantas amazônicas, exóticas, além de lugares etc.. Quase na mesma proporção há na Pedra do Reino do Ariano Suassuna uma imensidão de termos minuciosos que pertencem ao vocabulário do sertanejo, do homem do sítio do interior do nordeste. "Barbicacho", "onça" são os que melhor lembro agora. Assim também Milton Hatoum pinta sua cidade de Manaus, agregando frequentemente vocabulário local - mas é diferente de Mário de Andrade porque em Hatoum esse vocabulário está no fundo, e em Mário está bem presente, e em cada página há umas 20 palavras novas. A leitura que busca "entender por contexto" implica cortar todas as especificidades de plantas, lugares, sentimentos, jeitos específicos e tomá-los pelo "geral". Uma "acuçena" se torna "planta", "coragem" se torna "bravura", outros exemplos:
Já na meninice fez coisas de sarapantar = "coisas doidonas"
Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba = "ficava no canto trepado num pau (de uma árvore)"
Esse corte imenso e imediato que fazemos, muitas vezes, sem perceber, "pela pressa", rompe com todas as referências, com toda a riqueza, para não falar nas implicações das escolhas, de modo a ficarmos apenas com o tal "fio narrativo das ações". Se fazemos isso com um texto, é evidente que também devemos fazê-lo com pessoas também. Pela pressa, todas as nuâncias, sutilezas de intenção e vontades são cortadas e resumidas em uma intenção genérica, geral.

E o Olavo?


Primeiramente é preciso enfatizar que se estou falando desses assuntos é única e exclusivamente por causa do grande apoio que Olavo teve na minha formação e, portanto, por ser um dos temas que ele trata e considera de grande relevância. A língua sem que se capte as referências é uma janela com grades: uma prisão, não uma abertura para o mundo. Sendo assim, se ele apenas ajudasse a ver isso, já merecia ser citado; mas, mais que isso, ele também faz um estilo literário evidente. Nas palavras dele, "a síntese do erudito e do brega".

O primeiro choque que se pode ter com a figura Olavo de Carvalho é a diferença entre seu estilo linguístico presente no True Outspeak do estilo presente nas aulas. No True Outspeak ele fala de modo mais enérgico, com palavrões, mas é preciso prestar atenção, por exemplo, em "onde" ele os coloca. O exemplo que mais gosto é este aqui (inclusive, um dos vídeos que mais me influenciou a dar o voto de confiança ao Olavo):

Oração e autoconhecimento. Nota: esses vídeos antigos estão cada vez mais difíceis de achar. Estou ficando velho. Existem "gerações do olavismo" (as dos anos 2000, as depois do "mínimo", as depois da ascensão conservadora, as depois da eleição de Bolsonaro), e aí vão se avolumando os vídeos e materiais, e fica difícil retomar. Ô raios!

No vídeo de um lado ele está falando da "disciplina ascética da inteligência", ao mesmo tempo em que fala:
"Melou tudo, ele não vai enxergar nada" [3m17]
"Pô, será que as pessoas não entendem?" [4m19]
"ah aquilo lá é acreditar numa doutrina e ficar repetindo aquela porra por mera crença". (4m56), e prossegue: "Ora, porra. Mas isso é uma coisa de animal! Dá vontade de nem responder, [é dizer]: 'eu vou encher sua cara de porrada. Vou bater em você e não vou explicar porque tô batendo. Se não entender até amanhã vai apanhar de novo! É assim que tinha que ser!'"
Devia ter uma cota de burrice que o sujeito comprava. E aí quando gastava aquilo tinha que pagar mais. Mas como é de graça, os caras abusam, porra! 

Aliás, essa última é uma sacada tão divertida quanto a de Ariano Suassuna.

Olavo está falando de questões nesse vídeo que eu já vi, por exemplo, nas meditações de Louis Lavelle, nos textos filosóficos, em grupos mais ou menos místicos como Nova Acrópole, mas a maneira como ele fala condiz com a sua intenção: misturar o brega com o erudito. Fugir do código padronizado da fala erudita, recheando de exemplos aparentemente banais, como o ditado do Suassuna, mas, ao mesmo tempo, elevando-os a um significado maior.

Os xingamentos do Olavo são sempre direcionados não às coisas elevadas, mas a quem desdenha dessas mesmas coisas, o que, afinal, fortalece o discurso sobre as coisas elevadas. É o jargão que costumo usar: "rir sim, mas rir do quê?" Quando você pega um vídeo como os do Porta dos Fundos, como este sobre os 10 mandamentos, o que está sendo visto pelo ângulo do ridículo é algo de extrema importância para muita gente. Por outro lado, Olavo faz o contra-ataque: ridicularizar o ridicularizador das coisas elevadas.

 Uma das coisas que deve ter dado trabalho para o Olavo foi "escolher" esse código "popular". Sim, porque a linguagem popular passa rápido. São modismos temporários, como os memes, e que se deixam a marca em uma geração, são desconhecidos pela seguinte. Quem daqui a, talvez mesmo 10 anos, vai saber o que é "havaiana de pau", ou "Senhora?", ou "Eu queria estar morta"? Os vídeos engraçados e novas referências se proliferam aos montes, e os mais jovens sempre vão estar em contato com o mais novo, não com o antigo. Do mesmo modo é preciso escolher no estilo referências mais "constantes". O Alborghetti, por exemplo, nem eu conhecia. Se conheci foi porque virou meme moderno após Olavo. São exceções.

Vai à merda, porra! (Alborghetti, pai do personagem de TV Ratinho, considerado uma das inspirações para o estilo do Olavo)

Gente, até o humor. Se você pegar um livrinho de piadas dos anos 2000 e ler para um jovem (até 18 anos), ele não vai rir nem uma gota. Juro, eu testei isso. É incrível isso. O estilo de fazer humor muda.

É preciso lembrar, por exemplo, que alguns dos nomes artísticos que mais chamavam atenção eram "bocas sujas", e/ou barraqueiras (e, apesar de não admitirem isso, a coisa não mudou muito). São eles, por exemplo, Pedro de Lara, Dercy Gonçalves, Ratinho. E recentemente temos Gretchen (gente, ela pode ser meme, mas ela é famosa por putaria), Inês Brasil (idem), e Ratinho continua, além de programas populares como Casos de Família etc.. Nem vou falar da imensa popularidade do brega funk etc.. Baixaria pura, a cobra fuma adoidada por aqui.

Mas Olavo conseguiu criar uma síntese da linguagem que para hoje é o nosso "tiozão" com o erudito, tornando esses assuntos elevados mais acessíveis, e mantendo o humor para quem quer que não esteja muito infiltrado pelo "humor anti-sagrado" que representei pelo Porta dos Fundos.

Por fim, "as prostitutas no dicionário" do Imbecil Coletivo II, para uma demonstração escrita - e, portanto, mais refinada. Mas antes, logo no título do livro, já encontramos 3 referências, puxadas para o humor "anti-anti-sagrado":  o imbecil coletivo (intelectual coletivo de Gramsci, parece (não li)), "a vaca foi para o brejo" (ditado popular reconhecido até hoje), "filhos da PUC" (palavrões parece que são mais permanentes numa linguagem do que quaisquer outras pilhérias). Não vou me demorar em detalhar as referências, mas quem quer que experimente, vai achar no mínimo muito instrutivo.

O artigo em questão trata sobre uma deputada - não interessa quem - que quis forçar o dicionário a mudar a expressão "mulher pública" que tem sinônimo popular de "prostituta" para que tenha o valor equivalente ao "homem público", elogioso. Sem entrar em detalhes, num simples artigo (4 páginas de letra relativamente grande na minha edição) Olavo aponta, dentre outras coisas:

  1. Uma contradição abissal entre a esquerda antiga (ou a do plano do discurso) e a esquerda moderna (ou a real);
  2. A ascensão de um autoritarismo;
  3. Um autoritarismo não só físico, mas que põe em jogo a questão das consciências individuais
  4. A disputa entre a cultura do povo e a cultura jurídica;
  5. A disputa entre a busca da verdade e a "verdade pragmática" (de momento, conveniente a fins políticos);
  6. Questões linguísticas e metalinguísticas sobre o uso da língua portuguesa.
Tudo isso com e através de piadas feita em torno de um simples fato banal cotidiano que, aos olhos leigos, passaria no máximo como uma excentricidade. A piada-mor foi a sacada:
"Ao passo que os homens empregam sem rebuços as duas sílabas do meio da palavra 'deputado' (ou 'deputada', pois aqui não se discrimina ninguém"
Gente, linguisticamente isso é brilhante. Já pensaram no tanto de coisa que é preciso um estrangeiro saber para decifrar isso? (desde algo de separação silábica, gírias etc.).  A pessoa em questão que fez a proposta era uma deputada, e o Olavo não só juntou tudo isso numa sacada tão brilhante ou, eu diria, até mais, que a que Ariano Suassuna teve que fazer para montar a transição das peças do Auto da Compadecida, como também usou da notícia banal para revelar através dela suas posturas filosóficas. Ou seja, não só a intenção linguística se fez presente, como a intenção filosófica, os dois personagens sendo um só e mantendo o viés pedagógico.

E isto, afinal, é o que "sobra" do texto ao longo das épocas, apesar do conteúdo em si. São essas questões, essas intenções, que, afinal, ensinam algo a mais.

Não vou adentrar nas referências em outros artigos, onde Olavo sempre puxa os clássicos literários da cultura brasileira para exemplificar, e acrescenta aqui e ali as referências necessárias dos Grandes Livros (ou livros específicos, técnicos) para permitir que o leitor se aprofunde nas ideias. É uma intenção constante, e é ela que revela quem é o personagem. Exemplos disso se vê (além da citação a Gramsci) em:

Agora voltemos, para fechar a exposição, ao tal exemplo do Leandro Karnal que eu não posso sequer garantir que é dele. A citação indiscriminada, onde os argumentos ficam em 2º plano e que, afinal, só servem para incitar o leitor a pensar "só sei que nada sei", em abstrato, é o tipo de intenção artística máxima que se costuma ver no material cotidiano. Cada qual assume um papel social, e os "filósofos da tríade" assumem o papel de "monges", como a Coen, com a intenção de ensinar a ser um bom menino e não ficar triste ou com inveja com próximo, nem sofrer com a inveja dele, quando muito. Não julgo sequer o conteúdo, que pode até ter seu valor a quem esteja preocupado com essas questões e queira iniciar no assunto (atenção: iniciar), mas, ô raios, a que distância estamos quando os códigos comuns da língua cultural são ou acadêmico (e aí ninguém vai ler), ou "bom-moço", retirando toda a individualidade que tem um Mário de Andrade, um Ariano Suassuna, um Milton Hatoum, um Villa-Lobos, um Olavo de Carvalho, sem falar no abismo entre esses 2 tons comuns e os códigos populares (seja o da baixaria, seja o de memes, seja o de subculturas como a otaku etc.). Isso biparte o homem, que de um lado olha para o chique, e de outro esquece tudo isso e volta a rir das confusões do Casos de Família ou rebolar com o novo brega funk. Isso quando não nega que gosta dessas coisas, ou quando odeia quem admite que gosta. O povo e o erudito se distinguem cada vez mais, e o erudito do pseudo-erudito, e os códigos uns com os outros. E, afinal, não é isso o que aconteceu na Torre de Babel?

Quem, afinal, está disposto a aprender conscientemente todos esses códigos e fazer um esforço de síntese? E quem, afinal, tem paciência para isso quando tudo o que fazemos é entender por contexto, transformando todas as particularidades em ideias mais pobres, mais simples? É como ignorar as pessoas pelo que elas são, e julgá-las indiscriminadamente. É o juízo temerário, é a incompreensão generalizada, é o oposto das palavras "compreender tudo é perdoar tudo" e é, afinal, a decadência do espírito, a confusão das línguas, castigo ao homem que perdeu o amor, isto é, a vontade de compreender o próximo, de compreender suas necessidades mais profundas para poder supri-las.

E é nesta chave, afinal, creio eu, que Olavo tenta trabalhar.



Círculos Concêntricos

Este termo faz parte da lista "Figuras de linguagem". É uma das mais repetidas do Olavo. Ela começou a me chamar a atenção quando a vi, dita em outros termos, no Erro de Narciso (capítulo 7, parte 10, "O Destino Único"), quando diz:
"É um grande erro pensar que cada um de nós avança em linha reta rumo a um fim longínquo e inacessível. Cada um de nós gira em torno do seu próprio centro, aumentando sem parar o círculo que descreve na totalidade mesma do Ser. Assim o papel do tempo é diferente daquele que quase sempre lhe atribuem. Ele não é uma fuga para frente, na qual perdemos o que deixamos atrás sem nunca estar certos de adquirir alguma coisa. Ao contrário, ele nos permite envolver numa curva que traçamos ao redor de nós mesmos uma região do mundo cada vez mais vasta, como no crescimento da rosa."
Sendo assim, podemos representar a imagem por:
Uma rosa, ma chérie.
Um alvo, para os não-românticos
A torre de Hanoi para os mais lógicos.

O que essas 3 imagens têm em comum é claramente o eixo vertical no centro, em volta do qual se desenha a figura, ou os círculos. É esse o significado do termo, ora usado em sentido plano, ora em sentido tridimensional pela noção da "espiral" de que fala Olavo ao descrever, por exemplo, o estilo de escrita do Jardim das Aflições.

Como na descrição de Lavelle, enquanto a proposta comum - inclusive, por exemplo, a redação de ENEM - tem um formato mais ou menos retilíneo (introdução->desenvolvimento, apesar de que a conclusão retomar pontos já tidos), a ideia aqui é um processo de retomar e avançar, sempre; agrega-se novas informações, mas busca-se novamente conectar ativamente às anteriores, retomando-as, e novamente avançar.

A ideia dos círculos concêntricos é também ligada à dupla proposta do Olavo: de um lado a confissão, de outro o necrológico. Uma tentativa de integrar cada vez mais o próprio passado, ao mesmo tempo em que se busca pensar em um futuro. O velho, o novo, e o presente, onde ambos se interligam, e que é, imagino, o "centro" desses círculos: o presente, o que temos sempre a todo momento, apesar de cada presente ser novo. Não podemos viver nem o passado nem o futuro, exceto por imaginação; o que efetivamente temos é a sucessão de presentes. Mas é na imaginação que podemos ter, no presente, cada vez mais consciência do passado e do futuro. Um exemplo disso é, por exemplo: tudo o que você sabe da língua foi aprendido no passado, mas todo esse conhecimento está subconscientemente integrado na sua memória, do contrário você não decodificaria este texto. Do mesmo modo integrar suas ideias, suas escolhas, suas vivências passadas, e planejar as futuras, para ter um presente cada vez mais pleno, e belo, como a rosa com as evoluções que fazem suas pétalas em torno do eixo.

Postagem em Destaque

Sobre Este Blog e Categorias Principais

Sobre o Blog: O presente blog tem como objetivo organizar um pouco das informações esparsas sobre a obra do professor e filósofo Olavo de ...