domingo, 21 de junho de 2020

Círculos Concêntricos

Este termo faz parte da lista "Figuras de linguagem". É uma das mais repetidas do Olavo. Ela começou a me chamar a atenção quando a vi, dita em outros termos, no Erro de Narciso (capítulo 7, parte 10, "O Destino Único"), quando diz:
"É um grande erro pensar que cada um de nós avança em linha reta rumo a um fim longínquo e inacessível. Cada um de nós gira em torno do seu próprio centro, aumentando sem parar o círculo que descreve na totalidade mesma do Ser. Assim o papel do tempo é diferente daquele que quase sempre lhe atribuem. Ele não é uma fuga para frente, na qual perdemos o que deixamos atrás sem nunca estar certos de adquirir alguma coisa. Ao contrário, ele nos permite envolver numa curva que traçamos ao redor de nós mesmos uma região do mundo cada vez mais vasta, como no crescimento da rosa."
Sendo assim, podemos representar a imagem por:
Uma rosa, ma chérie.
Um alvo, para os não-românticos
A torre de Hanoi para os mais lógicos.

O que essas 3 imagens têm em comum é claramente o eixo vertical no centro, em volta do qual se desenha a figura, ou os círculos. É esse o significado do termo, ora usado em sentido plano, ora em sentido tridimensional pela noção da "espiral" de que fala Olavo ao descrever, por exemplo, o estilo de escrita do Jardim das Aflições.

Como na descrição de Lavelle, enquanto a proposta comum - inclusive, por exemplo, a redação de ENEM - tem um formato mais ou menos retilíneo (introdução->desenvolvimento, apesar de que a conclusão retomar pontos já tidos), a ideia aqui é um processo de retomar e avançar, sempre; agrega-se novas informações, mas busca-se novamente conectar ativamente às anteriores, retomando-as, e novamente avançar.

A ideia dos círculos concêntricos é também ligada à dupla proposta do Olavo: de um lado a confissão, de outro o necrológico. Uma tentativa de integrar cada vez mais o próprio passado, ao mesmo tempo em que se busca pensar em um futuro. O velho, o novo, e o presente, onde ambos se interligam, e que é, imagino, o "centro" desses círculos: o presente, o que temos sempre a todo momento, apesar de cada presente ser novo. Não podemos viver nem o passado nem o futuro, exceto por imaginação; o que efetivamente temos é a sucessão de presentes. Mas é na imaginação que podemos ter, no presente, cada vez mais consciência do passado e do futuro. Um exemplo disso é, por exemplo: tudo o que você sabe da língua foi aprendido no passado, mas todo esse conhecimento está subconscientemente integrado na sua memória, do contrário você não decodificaria este texto. Do mesmo modo integrar suas ideias, suas escolhas, suas vivências passadas, e planejar as futuras, para ter um presente cada vez mais pleno, e belo, como a rosa com as evoluções que fazem suas pétalas em torno do eixo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em Destaque

Sobre Este Blog e Categorias Principais

Sobre o Blog: O presente blog tem como objetivo organizar um pouco das informações esparsas sobre a obra do professor e filósofo Olavo de ...